sábado, 21 de junho de 2008

GANHAM SEMPRE OS MESMOS



Se vos contar - coisa que vou fazer - acho que vão cair de traseiro no chão e para vos poupar a maiores dores recomendo-vos que leiam isto bem posicionados numa cadeira de confiança, se é que ainda existem coisas de confiança nos tempos que correm.
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Fui à bruxa!
Alguém caiu? Espero que não.
Pela primeira vez na minha vida recorri a esses serviços para saber do nosso futuro neste país à beira Espanha plantado - sim, porque agora estamos de costas voltadas para o mar e abanando a árvore das patacas da Europa.
A bruxa, que afinal é uma mulher igual às outras e conduz um automóvel, não uma vassoura, levou-me os olhos da cara para atentar no "trabalho" que lhe "encomendei".
"Meu senhor", disse-me ela, "este serviço tem de ser mais caro porque vou interferir com forças muito malignas que me vão afectar o trabalho por dois ou três dias. São almas do diabo, meu senhor".
Olhem, fiquei estupefacto. Disse cá para mim: "Esta Xica Esperta está a querer enganar-me. Ainda é pior que a Encomenda".
Mas a bruxa insistia: "Tem de ser mais caro, meu senhor, quem se mete com Sócrates fica sempre a perder. Eu pensei que o meu senhor já soubesse disso."
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Olhei para a bruxa e até senti pena dela. Realmente Sócrates é de apavorar quem quer que seja e como nada sei dessas coisas de espíritos tenho mesmo de acreditar que nem uma bruxa se sente segura com gente daquela laia. Maus espíritos são maus espíritos e sempre ouvi dizer que o feitiço pode voltar-se contra o feiticeiro.
"Está bem, senhora dona Bruxa, pago-lhe com duas galinhas vivas e poedeiras e uma outra com viroses porque é para matar e fazer o seu trabalho de vidente", disse-lhe, a ver se concordava.
Concordou e lá lhe dei os galináceos.
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Aquilo que eu tinha pedido à bruxa todos também querem perguntar: Quem vai ganhar as próximas eleições, em 2009?
Coisa simples cá para a minha óptica, mas como nada sei de bruxarias, de videntes e feitiços, tive de me contentar em sentar-me e ver a bruxa cortar o pescoço à galinha da gripe das aves, deitar o sangue num pote cheio de formigas e atirar para lá para dentro um sapo vivo e saltitante, que ali dentro desapareceu num ápice e nem mais se ouviu. Uma enorme nojeira.
Fosse como fosse, o que eu queria era o veredicto. Quem seria o vencedor das próximas eleições?
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Depois de rezas, transes, fumaças e imensas coisas pestilentas a bruxa lá serenou e ficou de cabeça pendida, mais a dormir que outra coisa.
Foi despertando e deu-me uma resposta que eu julguei não estar a compreender por a bruxa falar tão baixo devido ao aparente cansaço.
"Salazar", parecia ela sussurrar.
"O quê!?", exclamei a interrogá-la. E ela novamente a dizer: "Salazar"...
Diabos, mas podia lá ser. "Oh senhora dona bruxa explique lá melhor o que quer dizer com isso", tive de lhe pedir.
"Meu senhor", disse ela, "quem vai ganhar é o mesmo que antes ganhou e que já nessa altura ganhava sempre", explicou-me.
"Especifique, dona bruxa, faça-me lá esse favorzinho", tive de lhe pedir.
Solicita, a bruxa esclareceu-me de uma vez: "Olhe, quem vai ganhar é quem sempre ganhou. Vejo três caras a a preponderante é a cara de Salazar..."
"Três caras, dona Bruxa, mas como pode isso ser? Uma é de Salazar e as outras duas de quem são?", tive de voltar a perguntar.
"Então, uma é de Sócrates e outra de uma mulher que não sei o nome mas que é muito parecida com o Salazar. São todos!"
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Bolas, fiquei a saber o mesmo. Optei por vir embora acompanhado pela ignorância que lá me tinha levado. A bruxa afinal só me disse uma parte do desfecho e não me esclareceu quem era aquela tal mulher que também aparecia.
Descidas as escadas abri a porta que dava para a rua e dei-lhe um pontapé por tão danado estar. Da porta saltou a placa que a bruxa ali pespegara como fazem os médicos e os advogados nas entradas dos prédios.
Peguei a placa e li: Manuela Ferreira Leite - Bruxa Todos os Dias - Encartada pela Faculdade de Economia.
Ora, ora, compreendi quem era a tal mulher que a bruxa não me quis dizer.
Enquanto ganhar sempre o mesmo estamos tramados. Não importa o nome mas sim para quem vão governar.
Está certo, ganham sempre os mesmos.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Antoni:

Ésta não é a minha guerra é a sua,mas não posso deixar de lhe dar os parabéns pela poesia que escreveu.

Está um espetáculo.

SAKUNAR SACANA