quinta-feira, 12 de junho de 2008

Santos Populares - MARCHEMOS, ÀS ORDENS DAS FERAS

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Susana Leitão escrevia no Diário de Notícias de há dias atrás que "O último dia de desfiles no Pavilhão Atlântico (domingo) ficou manchado pelos confrontos entre vários adeptos da bancada do Beato. Os desacatos começaram cedo, com um dos apoiantes a discutir com uma mulher por esta estar a assistir ao espectáculo de pé. Mais tarde, ainda o Lumiar (terceira marcha a desfilar) não tinha abandonado o recinto, instalou-se a confusão. Estalos para um lado, murros para o outro, os apoiantes de duas bancadas misturaram-se... Outros fugiram com as crianças, uma grávida levou um estalo. E mesmo com intervenção policial os ânimos custaram a acalmar."
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Esta é a Lisboa que eu amo!
Uns murros e uns estalos para defender os bairrismos tão característicos que eram já lá vão umas décadas. Afinal ainda há lisboetas que se prezam e defendem com unhas e dentes as cores dos seus bairros ao murro e ao estalo. Que maravilha.
A articulista explicita que quando tudo parecia sanado, afinal só parecia.
"Mas a confusão não terminou ali. Poucos minutos depois, um dos adeptos voltou à bancada (depois de ter sido retirado pela PSP) e continuou o que não tinha terminado. Voltou a instalar-se o caos. Desta vez, veio a polícia de intervenção rápida. Resultado: pelo menos um detido. Valeu para acalmar os ânimos de vez até porque o Beato, entretanto, entrou no recinto. E o que minutos antes parecia uma batalha campal transformou-se num grupo uníssono a gritar pelo seu bairro."
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Ora bem. Pois está de ver que só podia ter acontecido assim. E vá lá, antigamente havia desforras de semanas e umas vezes iam uns a um bairro (ofendido) e outras vezes ao outro (igualmente ofendido). Era a Lisboa antiga, castiça, do murro e do estalo e pouco mais. Aliás, como acaba por se concluir da narração de Susana Leitão.
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Eram estas picardias que acabavam por dar mais ganas aos marchantes, que em ar de desafio e provocação caprichavam para marchar melhor e ter melhores trajes, assim como melhores letras e músicas. Era o aprimorar do espectáculo e realização de cada um nestas pequenas-grandes coisas. Era o despique.
Despique esse que posteriormente se podia reflectir em fados, ee desgarradas nas tascas de uns e outros bairros. Muitas vezes era essa a "luta" e não a porrada, os estalos e os murros ou as violas a fazer de "cachecol", enfiadas "cornos abaixo" - como se dizia.
Castiço e praticamente inofensivo nos padrões da época... e realmente.
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Actualmente tudo está "macdonaldizado". É tudo igual e tudo hipocritamente pacifico... Reino de cínicos e sacanas como nunca antes houve.
O padrão global continua a preferir dominantes e dominados e são estes últimos que passam a vida a levar estalos de três em pipa e a marchar ao som das hipocrisias dos dominadores. Espanta-me é que ainda existam tantos marchantes dispostos a levar estalo e nem lhes passe pela cabeça que podem retribuir. Isso... qual quê!
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Vimos agora, nesta pequena agitação dos patrões camionistas que à socapa estiveram a apoiar a Antram numa paralização inconstitucional - os patrões não podem fazer greve! Vimos agora, disse, como se comportou este governo feroz para nós e dócil para os que querem e têm sempre mais. Ou não fosse este o governo deles e o nosso desgoverno!
Imaginemos que eram simples perrapados trabalhadores que procuravam paralisar uma ínfima parte do que os mascarados da Antram paralizaram. Se tal ocorresse não faltaria a policia de intervenção e todos os cães ao serviço dos que nos dominam.
E não era ao murro e ao estalo que havíamos de marchar mas sim à bala se preciso fosse. Pelo menos à chinfalhada seria.
Lá em cima, olhem para a cara dele e vejam como esconde mais uma fera!
Marchemos, às ordens das feras.
Hoje é noite de Santo António. Pelo menos que andemos ao estalo uns com os outros para defender as cores dos nossos bairros já que não estamos a ser capazes de nos defender, aos nossos filhos e aos nosso netos!
Bom Santo António!
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