sexta-feira, 18 de julho de 2008

NÃO SE CONFUNDA O MIJO COM A ÁGUA-DE-CHEIRO

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A impotência com que fomos sempre assistindo aos acontecimentos em Timor-Leste desde a sua “revolução de 1974/75” - que culminou com a declaração de auto-determinação e independência - tem ainda em nós, os que se interessam por Timor e pelos timorenses, o sabor amargo de milhentas decisões mal tomadas e milhentas atitudes reprovadas.

Foi tudo isso que conduziu à apressada invasão timorense porque de contrário Timor-Leste ainda seria integrado na Indonésia com a concordância dos políticos e militares conservadores de Portugal, caso de Ramalho Eanes entre muitos mais. Tal panorama condicionou os jovens e inexperientes líderes timorenses de então e apressou todo o processo das décadas de terror naquele país.
Portugal, os chefes militares e os políticos portugueses jamais poderão esquecer as suas responsabilidades na morte de duas ou três centenas de milhares de timorenses e deviam até retratar-se perante os timorenses de hoje para que os do passado lhes pudessem perdoar.
Em vez disso assistimos à costumeira hipocrisia dos chefes militares de então e dos políticos de ontem e de hoje, que acabaram por ter de vir a reboque em 1999 quando os portugueses disseram basta!
Disseram-no e vieram para a rua exigir que algo de decisivo se fizesse para apoiar a luta dos timorenses.
O mérito da diplomacia portuguesa, post-morten, só é de realçar porque de alguma forma foi decisiva e consequente, mas principalmente pela sempre presente luta pela libertação, excepto quando o próprio Xanana Gusmão deu mostras de pretender desistir e também ele teve de ir a reboque dos que não abdicavam da independência. Todos tiveram de ir a reboque, incluindo os governos de Portugal.

Após tanta luta e tanto sofrimento dos timorenses que nunca abandonaram o seu país – os que lutaram no terreno e os do exílio – eis que as responsabilidades por tantas mortes, tantas sevicias, tantos sofrimentos, caem em “saco roto” com a concordância dos “democráticos” presidente da República e governo de Timor-Leste, eventualmente alguns dos próprios deputados do PN.

Urge perguntar se consultaram os timorenses sobre o que fazer. Como sabemos a resposta urge ainda voltar a perguntar com que legitimidade democrática decidem o contrário da vontade da maioria dos timorenses?
Evidentemente que os mandatos que lhes foram conferidos nas últimas eleições não incluíam a legitimidade de decidirem como decidiram. Isto porque nas campanhas eleitorais nunca se pronunciaram sobre irem decidir pela total impunidade dos assassinos e torcionários de centenas de milhares de timorenses. Não foi só em 1999 que foram cometidos crimes atrozes. As atrocidades vêm desde 1975, desde a fatídica invasão por parte dos militares indonésios chefiados pelo ditador Suharto ao serviço dos USA e da Austrália.

Pode deduzir-se que por não existir um mandato específico dos parentes e amigos dos timorenses assassinados – ao menos esses – as decisões dos “chefes” timorenses ao concordar com a impunidade dos crimes praticados corresponde a decisões ditatoriais e ilegítimas. A comprovar ouvimos os coros de vozes que interna e externamente contestam José Ramos Horta e Xanana Gusmão, pelo menos, nesta acção de compadres hipocritamente mascarada de bom-samaritanismo mas que mais não é do que um acto anti-democrático, obstrutivo da justiça, criminoso e ditatorial. Por isso revoltante.

Não importam as palavras “santas” de Ramos Horta ou outros quando falam de que também perderam os seus familiares e que estão dispostos a perdoar. Esse é o seu caso pessoal, façam como bem entenderem.
O que não podem é exigir que os timorenses reajam como eles. Muito menos impor, ditatorialmente.
Podem todos os timorenses estar dispostos a perdoar, certamente que sim, mas por certo que a maioria exige justiça independentemente do perdão.
Justiça, senhores, perante tão horrendos crimes, mais nada há para exigir.
É mais que tempo de pararem com os cumprimentos e abraços aos carrascos e assassinos das centenas de milhares de timorenses e ouvirem os que vos elegeram mas não vos mandataram para serem obstrutores da justiça que deve reger este planeta… ou que pelo menos devia reger… não fosse existir pessoas como vós.

Não se trata de hostilizar a Indonésia, os indonésios, mas, pelo contrário, libertá-los do jugo dos criminosos do seu país que – não satisfeitos – ainda foram praticar crimes no vizinho Timor-Leste.
Não se confundam os povos com os carrascos, tal como não se deve confundir o mijo com a água-de-cheiro.
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2 comentários:

Anónimo disse...

"excepto quando o próprio Xanana Gusmão deu mostras de pretender desistir e também ele teve de ir a reboque dos que não abdicavam da independência."

E' assim que o Verissimo quer fazer a revisao da historia?

O Verissimo, deixe-se de tretas e vendetas pa! Voce ja tem idade suficiente para parar de agir que nem um menino birrento a quem lhe foi tirado o brinquedo favorito.

O que escreve e' proprio de uma pessoa a quem nao pesa as responsabilidades de estado. Uma pessoa que nao tem a responsabilidade de zelar pelo todo.

Anónimo disse...

Anónimo Anónimo disse...

O que ainda esta por clarificar e' o misterio de como foram gastos 54% do total de despesas do governo da Fretilin.
Onde foi parar esse dinheiro?

Algum camarada voluntariza-se para nos dar uma explicacao plausivel ja que nao existe qualquer documentacao para tal efeito?

19 de Julho de 2008 13:18
Anónimo Anónimo disse...

Talvez o Antonio Verissimo que, sentado no seu alto banquinho da moralidade, tanto sabe opinar sobre os 'males' do governo da AMP governo nos faca a delicadeza de explicar esta historia dos 54% de despesas nao documentadas no governo da Fretilin.

Verissimo?

19 de Julho de 2008 15:52