quarta-feira, 8 de outubro de 2008

OS FILHOS DA PIDE

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VOLTA PIDE, ESTÁS PERDOADA

Há alguns anos atrás grandes sabedores da administração pública deram luz verde para que a sede da PIDE em Lisboa fosse transformada num condomínio fechado e que os locais onde os portugueses antifascistas foram torturados e assassinados desaparecessem sob a casa de espaços adquiridos por gentes endinheiradas que espezinharam e espezinham a luta e sofrimento dos que lutaram durante décadas pela libertação de Portugal, alcançada em 25 de Abril de 1974.

A sede da PIDE, que devia ser um museu que preservasse a memória desses tempos, desses sofrimentos e dessas lutas foi branqueada. Foi transformada para que os vindouros não se apercebam de como é fácil caírem nas mãos de políticos sem escrúpulos tipo Salazar, tipo Cavacos, tipo Sócrates e outros, que nada tiveram a ver com essa luta, com esses sofrimentos - autênticos filhos da PIDE, no dizer de uns quantos septuagenários revoltados com a não preservação da memória dos portugueses desses tempos.

A lavagem das memórias naquele espaço lisboeta já lá vai, disso nem se fala e o avanço continua, o avanço dos que continuam querendo apagar memórias. Hoje, como no caso da sede da PIDE em Lisboa, fala-se de apagar um outro bastião da luta antifascista, um outro bastião de sofrimento dos portugueses: o Forte de Peniche.

FORTE DE PENICHE, UMA POUSADA

Já se fala da intenção de fazer do Forte de Peniche uma Pousada. O Forte de Peniche foi palco das maiores atrocidades do regime salazarista mas o que é que isso importa?
Actualmente é um museu temático que faz reviver minimamente aquilo que por lá se passou há décadas. Depois do Tarrafal, do degredo, era a prisão principal do regime fascista, onde muitos valorosos portugueses definharam e morreram. Era onde às vezes, as famílias conseguiam ver os seus familiares quase cadáveres em visitas esporádicas tristes e tementes. Era o forte do terror daqueles tempos. É o pouco que ainda resta para a preservação da memória daqueles tempos negros e daquele regime. É agora o alvo dos Filhos da PIDE. Apagar, apagar sempre.

Evidentemente que os actuais apossados do poder estão interessados em apagar aqueles exemplos. Será conveniente, para que os jovens de agora os ignorem e os emergentes Filhos da PIDE possam voltar a fazer o mesmo ou pior, aproveitando-se das novas tecnologias.

Dirão os Cavacos e Sócrates que são democratas, que estas palavras são um exagero e até injustas. Como injustas? Não tem sido a laia deles que tem vindo sistematicamente a apagar esses ícones das nossas memórias terriveis? Não tem sido essa laia a dirigir o país? Não temos actualmente em vigor uma “bisbilhotice airosa” da vida dos portugueses em nome da segurança? Não se registam actualmente comportamentos desviantes de polícias? Sabemos por ventura de modo verdadeiramente transparente quais as actividades de certas polícias?

O cidadão comum não sabe, não fiscaliza, nem pensa sobre isso, até ignora que tem o dever de preservar o seu direito às memórias, à sua liberdade de estar informado e preservar a memória desses tempos horríveis para as gerações vindouras. Para que os fascismos não se repitam, seja qual for a capa com que surjam e em nome daquilo que for.
Fascismos nunca mais! Ouviram, seus Filhos da PIDE?!
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2 comentários:

Anónimo disse...

Uma vez que o TLN já é só de alguns esclarecidos e democráticos autores, lá teremos que encontrar novos caminhos para de vez em quando desenferrujar os dedos e escrever umas asneiras.

É pena porque no meio de tanta confusão que por lá havia, algo era positivo e adquiria-se conhecimentos e conheciam-se pessoas, dando azo a que se passassem uns tempos entre os comentários de “stress e os de relax”.


Para mim teve mais uma faceta interessante pois despertou em mim o instinto de detective, procurando descobrir no universo dos meus conhecimentos, alguns comentaristas, que mais aceleravam a máquinas dos comentários. Alguns como a Margarida, o Aikurus e o Mau Dick, foram por mim reconhecidos, apesar de eles talvez não me terem identificado.

O anonimato por vezes, talvez por passados não muito distantes, liberta as pessoas, deixando-as mais à vontade para tirarem de dentro de si próprias, frustrações e ansiedades, ou como em alguns casos insultarem impunemente, outro anónimo que até pode ser o seu próprio pai.


Mas não foi pelo TLN que vim!


Vim porque o seu artigo me trouxe à memória, um amigo meu, Português que por volta dos anos de sessenta me contou uma história que nunca mais esqueci.


Contou-me o meu amigo, chamemos-lhe Cabrita, que na altura do problema do paquete Santa Maria a PIDE andava assanhada, tentando localizar qualquer desgraçado que tivesse alguma coisa a ver com os “contras” ao regime do Salazar.
Eles, PIDES eram como areia entrando em tudo o que era sítio e procurando ouvir todas as conversas.

Em Lisboa havia um ponto de encontro na praça do Rossio, que era mesmo em frente do café Nicola e aí se procuravam amigos e se encontravam aqueles que havia muito tempo não se viam. Aconteceu que um piloto de uma companhia aérea Brasileira, cujo nome esqueci, se encontrou com um amigo e estava falando sobre novidades: família, futebol e veio à baila o tema do momento, o rapto do Santa Maria.

No meio dessa conversa um indivíduo dirigiu-se a eles e mostrando um emblema disse:


- Pide! por favor…… ao que o piloto interrompeu tirando uma nota de vinte escudos de dentro da algibeira dizendo: - Ó! Pide! pide de pidir aqui tem….que seja em nome do Senhor! E entregou a nota de vinte escudos ao agente da PIDE.


Possivelmente a história não teria acabado aqui, mas foi só o que ele me contou.


Um abraço para você e desculpe por ter de me aturar!

SAKUNAR SACANA

António Veríssimo disse...

Olá meu caro Sakunar!

Muito obrigado por ter vindo por esta "porta" e oferecer a prosa interessante. Essa não sabia.

Eu acho que tenho o seu mail. Esta memória anda lixadota. Vou ver e depois logo lhe escreverei e agradeço que me responda, claro.

Vai um abraço grande e muito obrigado, foi um prazer