quinta-feira, 12 de março de 2009

O TRIO DA POUCA-VERGONHA NO PODER

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LEMBRAI-VOS DO ENCANTO QUE SUSCITAM OS RÉPTEIS

Não gosto de me exceder nem recorrer ao passado de determinadas pessoas mas é facto que não posso deixar de recordar que na juventude o senhor José Ramos Horta era um paladino da liberdade, da democracia, da separação de poderes e, também, da independência dos tribunais relativamente ao poder político, coisa que no salazar-caetanismo não existia.

Recordo algumas das suas “prelecções” desse tempo, por vezes até discutidas em grupo restrito em plena rua, no jardim do palácio ou na esquina que dava para o Amadeu Coelho. Era então um combatente pela democracia e pela liberdade, não só anticolonialista mas principalmente anti-salazarista.

Evidentemente que isso não o inibia de procurar relacionar-se com os “malai botes”, e meter-se “piolho por costura” na busca desse tipo de boas relações, muitas vezes acompanhado por Cristóvão Santos, que já lá vai. Era um modo de ascender socialmente e conseguir “cunhas” através do “inimigo”. Era preciso saber “engolir elefantes” e ter muito cuidado ao estarmos dentro da “boca do lobo”.

Numa das conversas de jardim – que não aconteciam só ali – falou-se à “boca pequena”, porque “as paredes tinham ouvidos”, sobre o hediondo Tribunal Plenário, onde os antifascistas-salazaristas portugueses eram atropelados pelas leis fascistas e pelo domínio do poder político salazarista. E também nos outros tribunais, a justiça dominada pelo poder político. Algo que Zé Horta condenava com pungente veemência. O domínio exercido pelo estado fascista e colonialista de Salazar e, depois, Caetano era naturalmente reprovado e detestado pelos democratas. Era algo inconcebível e prejudicial a um Estado de Direito.

Volvidas mais de três décadas, olhando para Timor-Leste, para Ramos Horta, o que vimos?

Podemos ler em extracto do despacho de Pedro Rosa Mendes, da Lusa, em entrevista ao Juiz Cooperante Ivo Rosa:

"A minha saída significa que o poder judicial em Timor-Leste ainda não é independente", declarou Ivo Rosa numa entrevista de balanço de dois anos de funções em Timor-Leste. Ivo Rosa deixou na terça-feira Timor-Leste, após meses de conflito judicial com o Conselho Superior de Magistratura timorense (CSM). "Eu só vou embora por causa disso mesmo, porque as decisões dos tribunais não são respeitadas", explicou o magistrado, que exercia funções como juiz internacional no Tribunal de Recurso. "O CSM tem uma grande componente política e a minha saída é o reflexo dessa realidade", acrescentou Ivo Rosa na hora da partida.”

Assim, dito por um Juiz. Isto em 2009, num Timor-Leste independente, em que Zé Horta, o mesmo (o mesmo?), é Presidente da República.

Já disse anteriormente e continua a afirmar o Juiz Ivo Rosa: “Ivo Rosa aludiu ao facto de o CSM, na ausência por doença do juiz presidente Cláudio Ximenes, ser dirigido desde há meses pelo jurista Dionísio Babo, secretário-geral do Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNRT), o partido do primeiro-ministro Xanana Gusmão.”

Na verdade, ao longo dos anos, deparamo-nos imensas vezes com a desagradável surpresa de concluir que as pessoas mudam bastante e em conformidade com as suas aspirações. Na maior dos casos só são opositores porque querem ocupar os cargos daqueles a que se opõem, nada mais. É essa a conclusão a que uma vez mais posso chegar ao analisar em retrospectiva o Zé Horta que desembocou no Nobel José Ramos Horta, agora presidente da República (dos “tókês”?) de Timor-Leste.

O triste espectáculo que nos tem sido dado a presenciar nesta “novela” timorense do poder político, de tudo fazer para “abafar” o poder judicial, tem cabimento vindo da parte de Xanana Gusmão, de Fernando Lasama Araújo ou outros, mas de Zé Horta, o Horta que era contra isso, o há quase quatro décadas, só pode deixar-nos estupefactos e concluir que aquilo que o Horta que conheci também tem feito é aproveitar-se do poder que conseguiu vendendo a alma ao diabo.

Para triste surpresa e mal dos timorenses talvez ainda venhamos a concluir que Horta não passa de um salazarento reciclado à modernidade destas democracias de fachada, bacocas, que só enganam os que não viram já umas quantas coisas no mundo e na vida. Se estiver enganado ele que prove o contrário. Presentemente, para mim e para aqueles que conheceram o Zé Horta de que atrás falei, nele acreditou, fizeram fé… O poder subiu-lhe à cabeça e aquilo que vimos é um falso modesto e um falso democrata. Mas que grande desilusão!

De Xanana ou Lasama nem vale a pena falar, sabemos o que a casa gasta, sabemos que afinal assimilaram o ser e estar de ditadores sob as patas de quem estiveram durante toda a sua vida. Como Salazar ou Suharto, experiência sua, eles próprios se hão-de derrubar. Muitos de nós ajudaremos.

Lutai, meus irmãos timorenses, lembrai-vos do encanto que suscitam os répteis, só para nos comer, para nos enganar. É bíblico.
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