sexta-feira, 20 de março de 2009

OS NEOCOLONIALISTAS DA ONU

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QUE PERSPECTIVAS PARA OS JOVENS?

A propósito de sugestões deixadas em comentários e relacionadas com aquilo que a juventude em Timor-Leste não faz mas que devia fazer, já apareceram várias abordagens ao tema, que teve por lema uma observação de um leitor, que era:

“Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti mas sim o que podes fazer pelo teu país”.

Como em tudo, por mais opiniões que aqui se reproduzam “ o copo pode estar meio cheio ou meio vazio”, depende da perspectiva e da abordagem que estejamos dispostos a fazer.

Em Timor-Leste por certo que não é só a juventude que se sente aniquilada, sem perspectivas, a querer avançar mas sem saber como. Afinal, precisando de orientação. Aquilo que pergunto é que estudos foram feitos para entender os traumas que residem no âmago dos atormentados espíritos timorenses? Para as várias gerações de timorenses, pós colonialismo português, após o 25 de Abril de 1974, tudo se acelerou e ficou incontrolável – também aconteceu em Portugal e nos restantes países colonizados pelo salazar-caetanismo. Nuns países houve guerras fratricidas de várias facções políticas e noutros não. Em Timor houve isso e ainda uma invasão de um gigante do sudeste asiático chamado Indonésia, que ocupou o país com botas cardadas por mais de duas décadas. Os traumas inerentes a tudo isso só agora puderam começar a ser tratados, os que os tratam – certamente poucos – e o que se passa actualmente na sociedade timorense é muito o reflexo de tudo isso.

A juventude timorense, de vinte anos ou um pouco mais, deve neste momento estar muito baralhada. Primeiro viviam ou sobreviviam de um modo, depois de outro e depois apareceram uns senhores “lá de fora que passaram a mandar…” Isso é complicado de digerir. Ainda para mais porque após referendo viram o país ficar destruído, possivelmente até ajudaram a destrui-lo, com 16, 17, 18 anos de idade. Timor ficou sem nada, sem nada. As infra-estruturas existentes, boas ou menos boas, deixaram de existir. Tudo teve de começar do nada, do zero! Diga-se o que se disser, os timorenses estão fartos de sofrer e de serem manipulados por militares, políticos, padres e pastores de novas religiões, por vendedores de bonecas insufláveis, até, se preciso for isso citar.

Se o país ficou arrasado competia aos dirigentes e à comunidade internacional doadora ter elaborado um plano de reconstrução a todos os níveis. Um plano capaz e de interesse absoluto para todos os timorenses. A todos os níveis isso devia ter sido feito com um rigoroso estudo e planeamento. Tristemente aquilo que vimos foi o caos dos que com muito boa vontade foram semeando a anarquia por cima do país e gentes destruídas.

Se estava quase tudo deitado a baixo havia que começar de novo, planeando uma nova Díli, Baucau ou o que fosse, mas principalmente Díli, a mais destruída. Mas não, o que se viu foi anarquia, fazer mas sem planear uma cidade ou sequer um bairro em moldes decentes e de acordo com os conhecimentos e exigências actuais do mundo moderno, construções baratas mas integradas em urbanizações devidamente planificadas e a obedecerem a um Plano Director a sério.

Aquilo que se viu foi a balda, a confusão. Confusão que é costume existir nestes casos e que até convém a uns quantos, até por esses fomentada, que é para literalmente enganarem e roubarem quase tudo e o mais que puderem. Isso foi e é o que ainda acontece em Timor-Leste com alguns internacionais na ONU, em ONGs… e também timorenses, já agora. Diz-se que na própria ONU existem estes “arquitectos do desespero dos povos”, chamam-lhes assim. Quero dizer: lucram com a desgraça dos outros.

Em vez de seguir o critério “deita-se abaixo para fazer de novo e bem”, no caso seria “deitaram abaixo vamos fazer de novo e bem” mas aquilo que vimos e temos visto é “deitaram abaixo e vamos fazer como conseguirmos com o que sobrar daquilo que roubamos”! Misturados com gente de grande coração, solidariedade e humanidade, os abutres raparam e rapam tudo!

Timor-Leste é um país em construção, quase de raiz, que parece que para nada tem um Plano Director capaz, adequado, honesto, que corresponda aos milhões gastos pela comunidade internacional. Onde estão esses milhões? Certamente em contas bancárias de muitos rapinantes!

Conforme não foi posto em prática um Plano Director material também não tem existido para compreender o que vai nas cabeças dos timorenses. Agravando a situação até os têm dividido, desbaratando a mais-valia que representa o esforço comum.

Perante este muito triste quadro, de responsabilidade essencialmente da ONU, os imberbes e inexperientes dirigentes timorenses viram-se em “palpos de aranha”, quero dizer, à rasca! Um Parlamento inexperiente, um governo inexperiente, pouco pôde fazer para contrariar a anarquia imposta pelos rapinantes internacionais de todas as nacionalidades e que se emolduraram com uns quantos rapinantes timorenses que lhes serviram e servem de camuflagem.

Afinal quem é que trata dos timorenses? Quem o tem feito? Têm sido eles próprios! Melhor ou pior têm sido eles a recuar e avançar, a experimentar… e muitas vezes a decidir errado. A resposta da comunidade internacional tem sido: toma lá milhões (que até voltam em contas bancárias para os países de origem ou talvez não, mas que deixam de pertencer às comunidades e Estados de onde saíram para serem usufruto de privados. De muitos novos-ricos).

O que pode fazer uma juventude que vê o seu país assim? Que força anímica pode ter um povo que se vê malbaratado deste modo? Acontece que em milhares de jovens vimos umas centenas de casos de algum sucesso e recuperação, felizmente. O que prova que tudo está a “andar” muito devagar. Ao passo conveniente dos rapinantes nacionais e internacionais, que – não esqueçamos – se camuflam com a maioria de honestos e bem intencionados que querem efectivamente fazer avançar o país – independentemente de auferirem o seu ordenado, justo. Não são esses os rapinantes.

Para quando o emprego dessa juventude que tão criticada é. E para os de meia-idade? E para as mulheres? E onde está a formação massiva? E desenvolvimento acelerado da agricultura, das pescas, das fábricas, da construção civil, etc, etc? Em nove anos o que foi feito? Corresponderá aos milhões saídos e doados pela comunidade internacional? O erro não está nos timorenses mas sim nos neocolonialistas da ONU.

QUERENDO CONCLUIR

A prosa vai longa e isto nunca mais acabaria. Devo dizer que foi um comentário de um amigo com que muito simpatizo que me transportou para esta catarse, este “lençol”. No seu comentário em postagem que está por aí. Ele escreve entre outras coisas:

“Em Timor aos 17 anos, tinha acabado o Curso Geral de Electricidade, com dinheiro emprestado para pagar as propinas.

Aos 17 e meio fui malhar o coiro como porta miras na Monis da Maia, com o Sr. Galamarra, meses depois era professor de posto, fui chefe de secretaria da escola de artes e ofícios de Timor, fui controlador sonoro da ERT, tudo isto antes dos vinte anos, por iniciativa própria, com a finalidade de ser alguém nesta peta de vida e, ciente de que estava também a contribuir para Timor.

Zé da Lábia”

Este meu estimado Zé é um caso visível de algum sucesso e até podemos vislumbrar-lhe mais sucesso. Quem não fica feliz por este caso e outros similares? Em frente homem!

O que penso que se deve perguntar é porque nem todos os jovens têm esta força anímica e não avançam? Eles são milhares, esses milhares podem até arranjar, por eles, força anímica… Mas onde estão as possibilidades de resposta? Foram criadas ao fim de todos estes anos? Não competia à ONU, aos senhores dos milhões, ter planificado tudo para que agora as respostas existissem? O que andaram a fazer? E agora a culpa é dos governos? Alguma será, mas muito pouca. O caos interessa aos rapinantes. Aos neocolonialistas.

E quem trata dos traumas psicológicos da sociedade timorense? Que tipo de trabalho sério tem sido feito ao longo de todos estes anos? Trabalho sério e não de “faz de conta”. Feito com os ex-combatentes do mato, guerrilheiros, Falintil. Feito com os elementos da retaguarda clandestina que eram o apoio das Falintil. Feito com os que só conheciam a Indonésia devido às suas idades e que viram posteriormente o seu país “ocupado por estranhos”. Feito com os que viram as famílias dizimadas, etc, etc.

Afinal, Timor-Leste, como muitos outros países dizimados por ocupações e guerras, tem sido beneficiado somente com uma ínfima parte daquilo que lá chega (chega?) doado pela comunidade internacional. É a conclusão a que se pode chegar. Disto certamente que já todos se aperceberam, incluindo os dirigentes. Será útil que os maus exemplos levados pelos rapinantes da ONU e outros não continuem a proliferar na sociedade timorense e que esses mesmos sejam punidos exemplarmente pelos governos, sejam quais forem, e a começarem no seu interior…

Temo estar a parecer e ser muito freak. Além disso tenho a bexiga cheia. Bom fim-de-semana, meus irmãos.
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