A VASTIDÃO DA PLANÍCIE ESPERA-ME…

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… E OS MEUS AMIGOS TAMBÉM

Eh, rapaziada, se chegarem mais em baixo têm por lá a razoado de prosa sobre Timor que até parece que nada mais tenho para laborar. Tenho a impressão que esta louça lisboeta do jantar de ontem e do almoço de a seguir vai ficar por lavar e as camas por fazer e os pássaros por tratar. Abro-lhes as gaiolas lá na cozinha e eles que saiam e que comam os restos que estão na loiça. Sempre fica um pouco mais limpa. Tenho é de fechar as portas para não me andarem pela casa a depenicar no cotão e a fazer cagadelas em tudo que é sítio. Sim, porque as camas eles não sabem fazer, nem limpar, nem arrumar.

Isto tudo porque, como sabem, estou de abalada para o Alentejo da minha alma, para a vastidão da planície que me espera aos fins de semana, que me empresta paz. Estou indo também para os meus amigos burros Franciscos que me esperam e que sempre carinhosamente zurram quando pressentem que estou chegando ao Monte da Francisca. Hoje vou lá chegar de dia. Não me vou empatar com aqueles caçadores da tasca de Arraiolos.

Vejam lá que um dia destes houve um que disse que caçou um peixe voador lá numa represa… Disse que julgava que era um pato mas que afinal era um peixe enorme com asas.

Claro que eu arregacei logo as calças e ele se sentiu ofendido porque achou que eu estava duvidando da sua “epopeia”. E disse-me ele:

“Entã vomeçê nã sabe que existem espécies que dizem estarem extintas mas que não estão? Ora e é assim tão letrado mas não sabe disso?”

Fiquei coçando a cabeça como o macaco e ele lá se explicou:

“Pois o compadre António fique sabendo que aquilo não era nem peixe nem pato mas sim um bicho dos tempos dos dinossauros. Aquilo tinha milhões de anos e outros por cá haverão. Não estão completamente extintos. Aquilo era um parlapatausauros, fique sabendo!”

Já nem puxei mais pela conversa. Não percebo nada desses tempos dos ex-tintos, até porque no Monte da Francisca não usamos tinta mas sim cal. Tintos só se for de Borba, Vidigueira e assim… Mas os tintos de Borba são mais ao meu paladar. Quando é pomadoso, caseiro, do bom e sem modernidades.

AGARRA QUE É LONTRA!

Ainda sobre o parlapatausauros andei à procura nas enciclopédias… e nada. Telefonei para o National Geografic e eles disseram que haviam de ir lá à represa fazer estudos e filmagens se der interesse. Também me disseram que aquilo que o caçador apanhou devia ter sido uma lontra!

“Uma lontra!” Admirei-me, “mas as lontras são lá para o norte e nos rios, não nas represas alentejanas.”

“Olhe que não, olhe que não”, disse o compadre da National, “há agora uma espécie de lontras que chafurdam em tudo que é charco de merdeira, são da família sócrates e afins, veja lá se não andaram a chafurdar nos charcos do rio Tejo, onde apareceu o Freeport!”

Restou-me coçar a cabeça, pois então. Preocupado pelo tamanho destas lontras. Depois disse: “Oh compadre National, olhe que no charco de S. Bento também devem haver lontras dessas, pelo que se vê é uma chafurdice!”

“Pois há”, disse o compadre. “Em S. Bento de Porta Aberta e também fechada. São lontras que gostam de chafurdar lá à sua maneira e não querem que as vejam.”

“Ah, então e diga-me lá. Para que querem elas as asas?”

O compadre National largou uma enorme gargalhada enquanto ia dizendo: “Ora, mas você não sabe? Então, é para se confundirem com anjinhos!”.

Ora porra! E eu a pensar que eram uns diabos! Afinal o meu oftalmologista é um palerma. Cada vez vejo pior.

Bom fim-de-semana e paciência no meu aturo… É que levo o portátil para ensinar a minha Francisca a navegar na internet. Já lhe disse foi que não pode borrar a Web com os cagalhotos porque preciso deles para a estrumagem do hemiciclo

Cuidado com as lontras voadoras!
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