sábado, 25 de julho de 2009

A SALAMALANDRA

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Rija, enquanto durou.

Agora q'amolengou e antes q'a morda a cobra,

Vou atá-la c'uma corda

Pra ela nã me fugiri.

Preciso da sacudiri,

Leva tempo pá'cordari

Já nem se sabe esticari.

Más lenta q'um caracoli,

Enrola-se-me no lençoli.

Ninguém a tira dali,

Já só dá em preguiçari.

Nada a faz alevantari

E já nã dá com o monti,

Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?

Parece defunta, morreu.

Deu-lhe p'ra enjoari,

Nem lh'apetece cheirari.

Jovem, metia inveja.

Com más gás q'uma cerveja,

Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,

Era de nôte e de dia.

Até as mulheres da vila,

Marcavam lugar na fila,

P'ra eu lha poder mostrari!

Uma moura a trabalhari,

Motivo do mê orgulho.

Fazia cá um barulho!

Entrava pelos quintais,

Inté espantava os animais.

Eram duas, três e quatro,

Da cozinha até ao quarto

E até debaixo da cama.

Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,

Desde o mê tempo de moço.

A idade nã perdoa,

Acabô-se a vida boa!

Depois de tanto caçari,

Já merece descansari.

Contava já mê avô:

"Niuma rata lhe escapou!"

É o sangui das gerações.

Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,

É da minha gata, a Pilita!

*Autor desconhecido… mas tem ares de ser do Zé da Lábia
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