segunda-feira, 31 de agosto de 2009

FEIRA DAS VAIDADES E DA HIPOCRISIA INVADE DÍLI

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DEZ ANOS QUE DEVIAM TER SIDO
DE LIBERDADE, JUSTIÇA E DEMOCRACIA, MAS NÃO...

Vive-se em Díli o 10º aniversário comemorativo da realização do referendo que permitiu aos timorenses expressarem a sua vontade de escorraçar o invasor indonésio do regime desumano e antidemocrático de Suharto. Então, há dez anos, Timor-Leste deu os primeiros passos para a sua liberdade e independência, julgávamos nós.

Dez anos volvidos, analisando o percurso percorrido, as acções e atitudes da comunidade internacional, dos países mais envolvidos e da ONU, não podemos fazer um balanço tão satisfatório como nos querem fazer crer. Os défices do Estado timorense são enormes, os da Austrália também, os da Indonésia idem, os de Portugal nem se fala, mas os défices mais vergonhosos são os de Xanana Gusmão e de José Ramos Horta, entre outros timorenses da elite política, assessorados por muito do Corpo Diplomático acreditado em Díli, pelos países lusófonos – principalmente Portugal e o Brasil – e substancialmente pela ONU, pela UNMIT e seu representante do Secretário-Geral, Atul Khare.

Aquilo a que se tem assistido nestes últimos dias em Timor-Leste, mais propriamente em Díli, é à chegada de “altos” representantes de vários países, que aproveitam a oportunidade para sancionarem o golpe de Estado, a corrupção, os abusos de Poder, os atentados à liberdade, os credíveis falsos atentados, as execuções sumárias na residência do presidente Ramos Horta, os conluios e nepotismos do governo AMP, as infracções a leis por parte do primeiro-ministro Xanana Gusmão – caso da Lei 7, quando o PM permite que a sua filha receba lucros fora da Lei em negócio aprovado pelo punho do próprio, etc.

O défice democrático, o medo, as pressões, as ameaças, são vulgares em Timor-Leste. É comum darem-nos conhecimento, inclusive, de Embaixadas que chamam a atenção dos seus cidadãos, em serviço em TL, para não usarem do dom da palavra, da liberdade de expressão sobre Timor-Leste, para não fazerem isto nem aquilo a fim de não causarem “problemas diplomáticos”. A própria ONU, UNMIT, funciona assim. À revelia da Carta das Nações Unidas e dos Direitos Humanos, à revelia da democracia que uns quantos, hoje mesmo, estão a afirmar existir em Timor-Leste, mentindo. Sabendo que estão a mentir e a usar de uma dose letal de hipocrisia e de oportunismo repelente. Os elogios sucedem-se entre corruptos e corruptores, entre golpistas e assassinos de pessoas e destruidores de bens. Choram-se palavras comoventes e lágrimas de crocodilo pelos Mártires.

O bem que vislumbrámos para Timor-Leste, que fosse livre e independente, não existe, como dizem. Na verdade foi isso o que perseguimos durante décadas, para agora aparecerem uns senhores de colarinhos brancos mas de comportamentos e almas sujas, que encenam verdadeiras Feiras de Vaidades em Díli, sob o pretexto de estarem a comemorar algo de significativo para o povo de Timor mas que mais faz lembrar um super encontro internacional da Máfia Global.

Na verdade, de parabéns estão só os timorenses, os que lutaram no mato, nos órgãos de apoio internos e também nos externos. É dia de recordarmos e enaltecermos sinceramente os heróis mortos no combate ao invasor e opressor indonésio. É dia de repensar o que querem os timorenses para Timor-Leste. Certamente que não querem esta Feira de Vaidades, este gastar de recursos, este esbanjar em receber tantos e tão maus, alimentá-los e fornecer-lhes todas as mordomias possíveis e imaginárias.

Esperemos que ao menos os protagonistas da Feira das Vaidades e da Hipocrisia saibam olhar para fora das suas viaturas de frescos interiores quando percorrem as ruas de Díli, ou para além das janelas dos quartos de hotéis e das embaixadas. Mas não vomitem o conteúdo dos vossos lautos banquetes sempre que passe um timorense que tem para sobreviver menos de um dólar norte-americano. Apesar de tudo munam-se de penicos e vomitórios, façam-se acompanhar pelos recipientes e usem perfumes fortes para disfarçar. Cuidado com os maus odores.

Publicado em Timor Lorosae Nação em 30 de Agosto de 2009
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