domingo, 21 de março de 2010

LIMPAR PORTUGAL UMA OVA!

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Por ANTÓNIO VERÍSSIMO

PREVALECE O CHEIRO NAUSEABUNDO

A iniciativa “Limpar Portugal” foi um sucesso, afirmam as organizações ambientalistas. Imaginem que no mato, por Portugal, limparam 70 mil toneladas de lixo e até poderá encontrar vídeos que lhe permitirão visualizar as operações de limpeza que arrastaram 100 mil voluntários para um trabalho que é de todos nós porque afinal em vez de limpar só temos que não sujar. O ambiente merece-o, nós igualmente.

Cá por mim julguei que iam mesmo limpar Portugal de todo o lixo. Foi assim que lá fui de vassoura, espanador, detergentes e lixívia, rumo a S. Bento. Ia com o propósito de limpar a Assembleia da República… Mas estava fechada!

Lá vieram os seguranças ver o que queria, quando ouviram o meu nariz bater na porta. Disse ao que ia. “Não, não. Para limpar não é aqui. Terá de ir para Monsanto.” Informou-me o segurança quando lhe disse ao que ia. Que era para ajudar a retirar o imenso lixo do Plenário, dos Passos Perdidos, dos imensos corredores e gabinetes. Até lhe referi que ia equipado para limpar a piscina que o Cavaco Silva mandou construir para ele e para os deputados, já lá vão uns anos, quando era primeiro-ministro e fez daquilo a vivenda Mariana de Lisboa (grosso modo). “Então posso ir limpar a piscina. Devem de andar lá dejectos a boiar.” Disse ao segurança, oferecendo-me. “Também não amigo” disse-me ele, “os dejectos vão por vezes para lá boiar, eles, os amigos e as famílias, mas hoje não estão lá. Foram boiar para o Algarve, para Tróia…” Informou-me. “Vá para Monsanto, é lá que os voluntários estão a limpar”, insistiu. Lembrei-me que é em Monsanto que há bastante prostituição, dizem. Qual o quê, ali em S. Bento há muito mais! Já nem se sabe quais são as figuras honestas! Prostituição finérrima e caríssima! Por isso continua a cheirar tão mal.

Para Monsanto… Desculpas esfarrapadas. S. Bento continua a cheirar mal!

Desisti. Agradeci as informações e virei costas. Pensando melhor rumei a casa. Decidi limpar a minha casa e deitar os montes de jornais que vou guardando com a mania de que um dia irei precisar. São quilos e quilos de fotografias de lixo com as carantonhas, histórias e declarações escabrosas da lixeira política deste país. Foi uma boa acção que fiz a mim próprio. Afinal aquela montanha de carantonhas dos políticos estava aqui a poluir a casa. Não foram toneladas de políticos impressos, mas representava muita merda. Com cada cara de merda!

“Limpar Portugal uma ova”, conclui. Afinal a iniciativa não era tão abrangente quanto devia. Foi louvável no que respeita ao ambiente – por isso estou agradecido – mas julguei que ia incluir uma limpeza adequada à lixeira política que polui as boas qualidades desta nação lusa tão conspurcada de parasitas; de verdadeiros candidatos a ditadores, de sabujos de um povo cansado de se ver cercado por mentes sujas, mas que não abre a pestana para deixar de ser tão enganado. Talvez um dia se limpe Portugal como devemos. Oxalá ainda seja no meu tempo e que possa usar a minha bengala mais robusta. Acreditemos nisso. Até porque o cheiro nauseabundo prevalece.

Limpar Portugal: 70 mil toneladas de lixo recolhidas (vídeos)

Expresso – Lusa – 21 Março 2010

Estima-se que 100 mil pessoas estiveram no terreno a recolher desde pneus e entulhos de obras a eletrodomésticos e sofás. A iniciativa ficou marcada pelo atropelamento de um voluntário de Condeixa. (Veja vídeos no fim do texto)

Cerca de 100 mil voluntários recolheram no sábado, em nome da iniciativa "Limpar Portugal", mais de 70 mil toneladas de lixo por todo o país, disse à Lusa um dos mentores do projeto.
"O tempo dificultou um bocado, mas apesar disso conseguimos reunir os 100 mil voluntários que queríamos. As opiniões técnicas é que conseguimos recolher 70 mil toneladas de lixo", relatou à Lusa Paulo Torres, um dos três coordenadores nacionais e mentores do projeto. Dentro de dias, sublinhou, os aterros sanitários e as entidades de reciclagem poderão confirmar os números com mais precisão.

O mesmo responsável acrescentou que o lixo foi "apanhado pelo país fora, sem zonas melhores ou piores" ou nas quais a recolha tenha sido mais intensa. Ainda assim, adiantou que "apenas no concelho de Braga recolheram-se 400 toneladas" de lixo, "essencialmente em terrenos de floresta" e "estradas no meio de bouças".

"Conseguimos passar a mensagem"

"Estamos bastante satisfeitos com o resultado e achamos que conseguimos passar a mensagem", reforçou Paulo Torres, acrescentando que apenas se registou um problema com um dos elementos que recolhia lixo no âmbito da iniciativa.

"Tivemos um acidente com um voluntário de Condeixa, que estava no 'Limpar Portugal', foi atropelado e está no hospital", avançou o mesmo responsável. "Não é um ferimento ligeiro, mas penso que está livre de perigo", sublinhou Paulo Torres.

A ideia de recolher resíduos espalhados nas matas surgiu em julho passado, quando o técnico de logística Nuno Mendes, de 38 anos e residente em Vila Nova de Famalicão, publicou no fórum da Internet do clube LandMania (para fãs de veículos Land Rover) um vídeo sobre um projeto concretizado em toda a Estónia, onde se reuniu mais de 10 mil toneladas de lixo.

Rápida divulgação na Internet

A legenda "Para quando em Portugal?" suscitou de imediato o interesse dos associados Rui Marinho, com 43 anos e gerente de uma empresa de produtos químicos em Santo Tirso, e Paulo Torres, empresário de comércio de 50 anos e morador em Braga.

Nenhum tinha até então estado envolvido em associações ambientais, mas todos partilhavam uma preocupação: o lixo que encontravam durante os passeios em todo-o-terreno, desde para-choques, pneus, resíduos industriais e entulhos de obras a eletrodomésticos, sanitas e sofás.
Com uma rápida divulgação na Internet, o projeto acabou por ganhar a atenção da comunicação social, das autarquias, de empresas públicas e privadas, do Ministério do Ambiente (que concedeu apoio logístico e jurídico) e da Presidência da República, que lhe atribuiu o alto patrocínio.

13 mil pontos de lixo

Os mentores acreditam que o facto de este ser um movimento cívico, que não aceita dinheiro, foi crucial para o envolvimento "espetacular" da sociedade, que resultou na identificação de cerca de 13000 pontos com lixo em todo o país, entre florestas e terrenos urbanos.
"Esperamos não ter de repetir, que as pessoas tenham compreendido a mensagem e que procurem desfazer-se do lixo de maneira conveniente", sublinhou hoje Paulo Torres.
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