sábado, 19 de junho de 2010

ADEUS SARAMAGO! ATÉ BREVE SARAMAGO!

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Dizem que morreste, jovem idoso provocador e rompe convenções, machado de razões que abres cabeças sem lhes retirar os escalpes, que lhes mostras para a eternidade e enquanto existirem letras outras visões e questões, também elas cheias de razões porque essas são tantas que nem as sabemos contar. Dizem por aí que morreste, claro que nos estão a querer enganar.

Tu vives, estás aqui mesmo à minha frente, em pessoa, na primeira pessoa que és de livros nas prateleiras que de tantos serem já só cabem no chão e ficam a meus pés. E lá estás tu, junto a tantos que prezo. São os meus melhores amigos, alguns já velhos e carcomidos. Não importa, as letras estão lá e tu também.

Vejo-te a sorrir à socapa, estendido e marmóreo, no disfarce perfeito, para que te deixem em paz e se atrevam a pensar dizer “Aqui Jaz”, se atrevam a elogiar-te quando por anos e anos a única coisa que souberam e fizeram foi criticar-te, reprovar-te, até odiar-te. E tu a vê-los passar… Sacanas, com cara de enterro, julgando que morreste. Mas que bem estás a enganá-los.

Dizem que são milhares, os que estão a passar por ti nesse salão nobre da Câmara Municipal de Lisboa, a maioria sem pensar, sem ser por mal, sem hipocrisia. A maioria é povo, sem pensar, julgando que morreste, quando afinal podem encontrar-te nas letras que também tu és. E as letras nunca morrem, são eternas. E outros passam, engravatados, hipócritas, a pensar que talvez fiquem iluminados com um bafejo do teu Nobel da Literatura. Os sacanas, que em nome da democracia participam numa ditadura. E lá vai o Cavaco em espirito e cinzento, o José Sócrates… outros. Tantos. Agora são mais que antes, nos malvados tempos salazarentos.

Não vomites homem, deixa-te estar quieto, disfarça. Faz de conta que estás morto. Aproveita. Repara nos semblantes de fingimento. Ena! Tanta hipocrisia… O Cavaco, esse, se leu três páginas de algum livro teu foi demais; o Sócrates, esse, sempre foi um tumba, nem os livros de engenharia leu quanto mais estudá-los. Sabemos bem como conseguiu o diploma. Aguenta. Deixa-os desfilar e esfregarem-se na hipocrisia que até lhes sai pelos poros. Deixa-os aproveitar a tua aparente morte para serem vistos com ar de lamento com o intuito de ocultarem, cérebro por cérebro, o pensar e agir lamacento, fétido e filho de puta. Tão que nos lixa e nos obriga à incessante luta de pensar e agir qual o melhor modo de os fazer sumir.

Já vou ter contigo. Estás também ali na minha mesa-de-cabeceira. Levantado do Chão. Até já. Até breve Saramago!

Maior bandeira de Portugal na capital não está a meia-haste

Lisboa, 19 jun (Lusa) – A maior bandeira de Portugal hasteada em Lisboa, no alto do Parque Eduardo VII, não está a meia-haste, no dia em que chegou à capital o corpo de José Saramago, falecido na sexta feira.

José Saramago morreu aos 87 anos na casa onde residia em Lanzarote, Espanha. O corpo foi transportado num avião da Força Aérea Portuguesa para Lisboa e está em câmara ardente nos Paços do Concelho.

O funeral sairá no domingo, às 12:00, para o cemitério do Alto de S. João, onde será feita a cremação.
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