"O país está à rasca"... Mas nem chegou a meio milhão de portugueses que se manifestaram por todo o país quando uns poucos jovens deram boleia à carneirada. E depois, o que é que se tem visto? Foi uma demonstração de desagrado muito pobre se considerarmos a gravidade da situação em que Portugal e os portugueses se encontram. Foi uma minoria que se manifestou. Entretanto continua tudo na mesma e ainda estamos mais à rasca. A acção foi inconsequente, o gene acarneirado dos portugueses prevalece.
Otelo Saraiva de Carvalho, capitão de Abril, aponta alguns "males" do país e fala da falta de consciência dos políticos sobre quanto mal sobrevivem os portugueses referindo que pode ocorrer uma eclosão social. Poder pode, mas Otelo deve lembrar-se que este povo é carneiro. Não foi por acaso que suportou o regime de Oliveira Salazar por longas décadas. Os portugueses esperam sempre um "salvador". E esperam, e esperam... Isso mesmo viram em Cavaco Silva, um salvador, parecendo que agora se transferiram para Sócrates - a tomar em conta as últimas eleições legislativas.
Nas próximas eleições vamos assistir ao tira-teimas. Vamos ver se os cabeçudos voltam a acreditar em Sócrates e na sua arte avançada de manipular. Pode acontecer. Mas, se não, lá vamos nós ter de acarretar com uma escolha similar: Passos Coelho e o PSD tão mafioso quanto o PS.
O PSD é um partido desgarrado que representa ainda mais que o PS os interesses dos que eram ricos e agora são muito mais. Ricos e egoístas, como mandam as suas normas. Não servem o país, servem-se a eles próprios, à família e aos amigos. Têm por pátria o capital. Quanto mais têm mais querem. Mas o PSD, a par do PS, também serve as suas clientelas e os seus, os novos ricos que criou nos tempos áureos de Cavaco Silva em primeiro-ministro e de Barroso. Esses, políticos e empresários ou banqueiros, enriqueceram exponencialmente à custa de tanto roubarem. O mesmo tem acontecido neste sultanato de José Sócrates. Mas os portugueses vêem isso? Reagem de forma inequívoca em reprovação explicita nas urnas de voto? A resposta é sim e não. Sim, vêem e comentam que "isto é tudo uma roubalheira". Não, não reagem a expulsar aquela corja de ladrões descaradissimos que estão instalados nos topos maiores da política nacional. Não reagem como deviam a cambalhachos desses mesmos políticos e até votam neles quase sempre. Sempre à espera que surja o "salvador".
Teoricamente Otelo pode ter razões naquilo que opina. Na prática é verdade que os atuais políticos são uns verdadeiros cães sarnosos em conluios que arrasam o país e lhes rendem fortunas. E isso vai desde Cavaco Silva até ao deputado mais insignificante que exista naquela casa a que chamam Assembleia da República mas que não passa de uma assembleia de representantes de lobies de todo o jaez, da maçonaria e da opus dei.
Otelo deve lembrar-se que faz parte de um povo que quer é "safar-se" e que se contenta com pouco, que quer que não o chateiem "porque isso da política é para os políticos". Mesmo as novas gerações estão contaminadas por esse gene bem português a que se pode chamar cobardia disfarçada de alheamento. Por isso, uma eclosão social a valer e a procurar expulsar os ladrões de políticos que temos... Jamais. Só quando aparecerem novos Otelos e novos Capitães de Abril... E então o povinho, cobardolas, lá vai atrás.
Depois acontecerá o que acontece sempre, ou quase sempre. Esses Otelos e Capitães também vão fazer muita merda, como os anteriores na década de 70, outros políticos ladrões - ou até alguns dos de agora - surgirão com novas dialécticas. Haverá excessos como no tempo do COPCON e oportunistas como Ramalho Eanes... Tudo como antes, quartel em Abrantes.
O positivo desta perspetiva é que pode acontecer que o povinho folgue um pouco, como após 25 de Abril de 1974... E sonhe. Mas não passará de um sonho. Tudo porque os portugueses acarneiraram-se com o gene Salazarista e da igreja retrógrada de Portugal que pela sapa continua por aí. O gene está lá e a nossa má vida e a democracia quase inexistente está à vista.
Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, também falou e disse. Quase tudo está certo daquilo que opinou, só que parece que se esquecem do povinho que temos: acarneirado e cobardolas. Um povinho que ao longo de décadas tem elegido as máfias partidárias de alternância, o PSD e o PS. Vai voltar a fazer o mesmo nas próximas eleições, com o agravante de que muitos se abstêm, nem votam, para sentirem que não participam no descalabro de elegerem o PS, o PSD ou o CDS, como se não existissem outros partidos a que nunca deram oportunidade de serem governo.
Afinal não é o povo quem mais ordena mas sim a manipulação e os milhões de acarneirados que continuam a aceitar sempre mais do mesmo para depois se lastimarem e irem fazer promessas à Fátima. Otelo e Marinho deviam lembrar-se disto e dizê-lo. Talvez conseguissem acordar algumas almas perdidas no mundo da bipolarização partidária, dita de alternância. Uma falsa democracia, uma ditadura de interesses e conveniências que tem a cara do PS, do PSD, e também (de que maneira!) de Cavaco Silva e seus "muchachos". Derrubar estes políticos só acontecerá quando se derrubar o gene acarneirado que subsiste nos portugueses. Esperemos que as novas gerações o consigam e que também derrubem o Sebastianismo. Que derrubem a falsa necessidade de se esperar sempre o "Salvador" da Pátria - coisa que Otelo e outros Capitães de Abril deixaram por alguns tempos que assim os encarnassem - com o mau resultado à vista, de merda.
Depois de Marinho Pinto ter invocado uma "greve à democracia"
Otelo acredita que pode estar na hora da democracia directa com que “sonhou” no PREC
LUSA - PÚBLICO
O estratega da revolução de 25 de Abril de 1974 acredita que a crise que o país atravessa poderá levar a que a democracia representativa venha a ser substituída por uma democracia directa, regime com que “sonhou” durante o PREC.
Otelo Saraiva de Carvalho, que participou sábado à noite, em Santarém, num colóquio sobre a canção que serviu de senha para o arranque da Revolução dos Cravos, disse à agência Lusa que é importante acompanhar o que está a acontecer na Islândia, que enfrentou a banca rota em 2008 e que está a viver formas de democracia directa, num processo que poderá ter “um desenlace profundo nas democracias europeias”.
No seu entender, os 37 anos decorridos desde a revolução não consolidaram totalmente o regime de democracia representativa que foi “imposto” a Portugal pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos da América.
“O meu sonho durante o PREC (processo revolucionário pós 25 de abril) começou a ser a possibilidade de instauração no país de um modelo novo de regime político que passava pela democracia directa”, pela criação de um “Estado de poder popular em que os partidos ficassem subalternizados”, à semelhança do que está a acontecer agora na Islândia, disse Otelo Saraiva de Carvalho à Lusa.
Para Otelo, o país está a assistir a “fenómenos importantes” a que é preciso estar atento, como as cada vez mais elevadas taxas de abstenção.
“O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, veio advogar greve da democracia e se ninguém votar como é que os políticos se acham com legitimidade para continuar a governar o país?”, questionou, frisando que estas “são ideias que vão aparecendo”.
Otelo disse acreditar que a “acção negativa da classe política que tem vindo a governar o país pode levar a circunstâncias que permitam uma alteração profunda disto”.
O “capitão de Abril” advertiu que se nada for feito para acabar com a “imoralidade da diferença salarial” existente no país, com gestores a receberem prémios de milhões e gente a ganhar menos de 300 euros, “o caldo está entornado”.
“Ou a classe política toma consciência da gravidade da situação ou pode haver uma eclosão social enorme”, declarou.
Otelo esclareceu o sentido do “sound bite” retirado da entrevista que deu a semana passada à Lusa -- de que não faria a revolução se soubesse como o país iria ficar -- assegurando que não está “absolutamente nada arrependido” e de que tem “um orgulho enorme em ter sido um dos protagonistas dessa gloriosa giesta”.
A frase surgiu “na sequência de se falar da situação atual, da juventude que está a emigrar por não haver aqui condições”, disse, em comentário às reações que a sua entrevista provocou.
Quanto à declaração de que só a perda de direitos dos militares poderia levar a um “novo 25 de abril”, Otelo reafirmou que as alterações ocorridas nos últimos anos nas forças armadas, com a profissionalização, e a tendência para a dissolução dos idealismos na sociedade levam a que só haja reação “se os direitos forem confiscados”.
“E vamos ver o que pode acontecer com a polícia e a GNR também, se começarem a tirar salários e a não pagarem salários. Aí cuidado”, advertiu.
Sem comentários:
Enviar um comentário