quinta-feira, 26 de maio de 2011

O ABORTO DE PASSOS COELHO NA APANHA ELEITORAL




A apanha eleitoral vai quase numa semana em Portugal, oficialmente. Sim, porque as campanhas político partidárias são permanentes. Era o que faltava passar um dia sem que os políticos lusos não pronunciassem umas loas para se sentirem compensados pela profissão que escolheram ou para que foram empurrados como reféns agradados de suas nababas vidas custeadas por um povo faminto mas que a eles sabe não faltar nada e que a abundância e a estragação estão garantidas.

Passa uma semana da apanha eleitoral, a que dão a definição de campanha, que significa o mesmo. O objetivo é apanhar incautos e ingénuos crentes nas mentiras pronunciadas pelos agora sofisticados vendedores da banha da cobra que resolve tudo, que se afirma ser a ponte entre a miséria e o Éden e o próprio extreminador implacável da fome e miséria. Os da banha da cobra pegam no cinzentão mísero e feioso que têm para distribuir e pintam-no ilusoriamente das cores vivas e enganadoras dos seus partidos políticos. Prometem vidas cor de laranja, de rosa, azul, verde, vermelho e o mais que vier das cores do arco-íris. É a apanha eleitoral, ninguém pode levar a mal.

Talvez por ser um estreante a candidato a primeiro-ministro percebemos que Passos Coelho, o da cor laranja que se vê e encobre o cinzentão, ainda não se refinou o suficiente para falar, opinar, prometer e não lhe encontrarmos enormes inconsistências. Este Coelho ainda é um aborto nas artes de prestidigitações e promessas ilusórias da política em Portugal. Ele é quem se denuncia ao ajustar o discurso, as promessas, as opiniões, em conformidade com as audiências. Hoje supôs estar a falar para uma maioria católica e contra o aborto na Rádio Renascença, emissora católica. Foi assim que achou por bem afirmar que será pertinente rever a lei do aborto, instigando à realização de um novo referendo. Isso porque, segundo ele, acredita que a lei foi mais além do que devia. E pronto, os que são contra pularam de convicção em votar PSD-Passos Coelho, o laranja para ele e uns quantos, cinzentão para a maioria. Um aborto de pigmentação, é o que é.

Que sim. Os cidadãos devem exigir novo referendo, instigou Passos, tão ao agrado de ciclópicos radicais antiaborto legal e a favor das fortunas conseguidas através do aborto ilegal. A favor igualmente das imensas vítimas ginecológicas, às vezes mortais, que depois dos abortos ilegais pagos a peso de ouro mas sem as devidas condições recorrem ao sistema de saúde por se encontrarem gravemente doentes.

Mas sobre isso Passos não sabe nem quer falar. Passos falava para a Rádio renascença, supostamente para uma audiência da igreja que é radicalmente anti-aborto legal. E disse o que queriam ouvir de sua parte que lhe garanta mais votos nas eleições em 5 de Junho. O resto pouco importa. Na apanha eleitoral vale tudo. Vale até falar em abortar a lei do aborto.

Passos falou para os radicais da igreja que julgou que o estavam a escutar. Foi a apanha eleitoral. Foi conversa de aborto.
Na apanha eleitoral vale tudo. Por acaso ainda não votam as vacas leiteiras, quando não Passos garantiria às mesmas que mais ninguém lhes tocaria nas tetas, fosse com as mãos ou com os apetrechos de ordenha. Isso, se acaso considerasse que tiraria vantagem na apanha eleitoral. E o mesmo faria às cabras e a outros animais ou pessoas. Se Passos Coelho tiver a possibilidade de ir a uma emissora ou a um outro fórum eminentemente de esquerda acreditem que dirá que não disse nada daquilo de que o acusam, que até é social-democrata como Karl Marx, que é contra a exploração do homem pelo homem, que é contra o capitalismo desbragado e sem ser desbragado. Passos dirá “especificamente e de forma vaga” (vá-se lá saber o que isso é) aquilo que considerar que apanha mais votos a esta ou àquela audiência, mantendo tudo num limbo abortivo, digno de um aborto sofista levado ao colo pelos barões do PSD e pupilo de platina de Ângelo Correia, que há tanto tempo que o anda a preparar. Mal, ao que parece. Mas para a apanha eleitoral deve servir… Servir, aos que estão desesperados por se servirem, como Sócrates e tantos outros do PS, do PSD e… Quase mais ninguém.

*Também publicado em PÁGINA GLOBAL

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