sábado, 10 de maio de 2008

Timor-Leste: TODOS PARA O ATAÚRO E DESNUDEM-SE

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Bispo de Baucau
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Para quem acompanha Timor-Leste desde os bancos da escola certamente que lhe apraz aperceber-se de que há jovens timorenses muito válidos que na diáspora se vão formando para possivelmente um dia prestarem o seu contributo ao país e levarem-lhe mais valia pelos conhecimentos adquiridos noutros países mais evoluídos na modernidade e na democracia.

Está neste caso Loro Horta, filho de José Ramos Horta e de Ana Pessoa. Dá gosto saber como se está a construir este jovem e apercebermo-nos da sua independência, razoabilidade e honestidade ao comentar a actual realidade do jovem país.
Como não podia deixar de ser, ele vai directo aos assuntos e procedimentos de figuras e entidades predominantes em Timor opinando sobre o que pensa, criticando, alertando, denunciando e apelando ao diálogo e à utilidade de se aproveitar este momento de alguma acalmia social para construir comprometimentos, evoluções e esclarecer situações do passado que venham a contribuir para a pacificação e decência do acto de fazer política na oposição e no governo.

Em tempos, quando se queria reprovar alguém dizia-se que seria desterrado para o Ataúro – pelo seu isolamento – mas agora, felizmente, a coisa mudou.
Actualmente o Ataúro é sinónimo de paz, de pequena porção de terra implantada no mar que permite retemperar ânimos na pacificação, no entendimento, na reflexão e nos compromissos úteis ao país. O Ataúro é o exemplo das Termas do Humanismo e Democracia de que Timor tanto necessita.
Exactamente por isso Loro Horta recomendou a todos os “poderosos” que detêm os destinos de Timor-Leste para que lá se reúnam e se entendam, se desnudem dos seus traumas, dos seus enganos, dos seus ódios, das suas convicções prepotentes, das suas inacessibilidades aos diálogos imprescindíveis para a implementação da sociedade democrática, evolutiva, pacífica e justa que antevimos e desejamos para Timor-Leste.

Para o Ataúro e em força! Digo-o também. Entendam-se de uma vez por todas!
Zelem pelos reais interesses dos timorenses e deixem-se de andar constantemente a armazenar vantagens, manipular almas penadas e a contar espingardas!
Os recados foram dados a quem mais tem prevaricado e prejudicado a Nação com os seus procedimentos. Neste rol, segundo Loro Horta, estão Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e a Igreja Timorense.
Mais que qualquer outro, esta instituição tem abusado do seu poder de manipular os que nela acreditam, tal qual como antes – quando deu as mãos ao colonialismo, ao fascismo salazarista, ao nepotismo de Suharto.
Loro Horta refere, com muitíssima razão, que tem sido vergonhosa a intromissão da Igreja na política timorense. Localiza a intromissão de modo desbravado, descaradamente, durante a campanha eleitoral última.
Que os bispos atentem nestas palavras, afinal ditas por todo mundo que se interessa, observa e quer ajudar os timorenses na evolução que se esperava, na pacificação que julgávamos também a Igreja colaborar.
Em vez disso temos visto e sentido que a Igreja Timorense, os seus bispos principalmente, usam a hipocrisia, a divisão e a intromissão nas coisas políticas e do Estado como se o país fosse só deles. Eminências que nem pardas conseguem ser.
Pode ser verdade que foi um representante da Igreja portuguesa o primeiro a pisar terras de Timor mas não será, nem é, isso que lhes dá o privilégio de serem proprietários do país e das almas que também por sua eclesiástica responsabilidade andam penadas, sofrendo as consequências das suas inusitadas intromissões na coisa política, na coisa do Estado, na coisa do interesse dos timorenses e de mais ninguém.

Pode a Igreja alegar certas verdades nas lutas contra a ocupação indonésia, mas se o fizer, a título de “cobrança” e do seu querer legitimar privilégios terrenos, também deve falar das suas assertividades com o regime indonésio que ocupou Timor por décadas, da sua cumplicidade com o regime que por um lado assassinava e torturava timorenses e por outro foi um saco sem fundo nos bens que ofereceu a essa mesma Igreja.
A Igreja de Timor-Leste é riquíssima. Não precisa de andar sempre na pedincha e a esmiuçar para, afinal, dar um dizimo daquilo que tem recebido aos timorenses que nela tanto confiam.
A Igreja tem de saber colocar-se no seu lugar e ajudar de facto os timorenses. O dízimo deve ser para a Igreja e o restante para os timorenses. Assim é dito por Deus!
Que também a Igreja se desnude no Ataúro e regresse à Ilha Mãe purificada. Tanto ou mais quanto se deseja aos políticos.

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