MUITO OBRIGADO, SANTO ÁFRICA!
Viver neste país já não interessa a ninguém. Agora, como se não bastasse Sócrates, Cavaco e outros nos quererem gelar a cidadania encefálica, também os santinhos nos mandaram um frio polar digno de ursos, que é aquilo que julgam que somos.
Já peguei em várias fotografias dos santinhos que a minha falecida mãe me deixou quando se foi. Estavam numa caixa que raramente vasculho, a não ser nos momentos de maior aflição. Esta do imenso frio que aqui faz em Lisboa é uma emergência, por tal lá fui à caixa rapar as “estampas” de todas as dezenas de santos que ali figuram. Boa vontade tive, mas qual é o santo que manda no tempo, concretamente no frio? Sei lá!
Sei que Santa Bárbara está relacionada com as trovoadas… mas pouco mais. Para mim, o Santo António, o S. Pedro e o S. João é que sempre foram santos porreiros e a que dei maior relevo. Pois, claro, por serem os santos das farras, das galderisses, dos namoros e namoradas, do catrapisca o olho em troca de um belo sorriso maroto de uma garina gira que a sorrir lá vinha bailar comigo ao som das violas e dos banjos, dos tambores e cornetas, assim com dos acordeões e concertinas. Isso é que são santos a valer. Bailar até às tantas gastando a juventude do melhor modo e com olhos brilhantes, felizes.
Ao olhar para os santinhos da caixa bem pedi ao santíssimo que me indicasse qual era o santo do frio. Ele que me desse um sinal com urgência. Com a urgência de um individuo quase a congelar. Mas qual quê, não me ligou patavina. Qual sinal qual carapuça.
Tomei a iniciativa de pedir a uns quantos santos daquela caixa que me auxiliassem, por misericórdia! Nada. Lembrei-me então de fazer como nas cartas de jogar: atirar o molho ao ar e ir selecionando as que ficam viradas com a face para cima.
Pedi desculpa aos santinhos, a todos, por os ir atirar ao ar mas as minhas necessidades de ser atendido justificavam, disse-lhes. Lá foram e lá caíram sobre a cama – fechada, não fosse algum santo pirar-se para dentro dos cobertores – e lá eliminei uns quantos. Lembro-me que entre eles estava um chamado Judas Tadeu, não conheço. Novamente fiz outro lançamento e lá caíram mais uns quantos com a cara na cama, sinal que me viravam as costas e que não eram santos do frio. Truca, menos uns. Agora só me restavam para aí uns vinte no molho. Foram ao ar… e o meu espanto foi enorme quando caíram e vi o resultado. Só ficou um santo a olhar-me, todos os outros viraram-me as costas.
Estranho, muito estranho, nunca tinha reparado naquele santo. Um santo preto? Eu nunca tinha visto nem sabia que havia santos pretos! Aliás, até sempre achei que esta coisa da religião promove e cimenta o racismo ao mostrar Cristo loiro de olhos azuis, e outros mais. Para mim os santos que sabia existirem por ordem do Vaticano são todos brancos, nem na catequese me disseram que tinham promovido pretos a santos – que coisa mais estúpida mandar nos santos como se fossem da tropa ou da formação profissional.
“Sim senhor, estão a evoluir, sinal dos tempos.” Pensei sobre o Vaticano e o santo preto. Qual nada, aquele santo já era velho, até a estampa. Pelo menos para aí uns setenta anos ou mais. Tentei saber o nome mas lá não estava inscrito. Simpático, o santo… mas não está representado com auréola como os outros. Estranho. “Racistas”, pensei logo.
Foi então que percebi. Claro! Era o sinal! O que os santinhos me estavam a dizer era para que eu fosse para África ou coisa assim. Tudo a sul do Equador! Então não! Mas que estúpido que eu sou!
Exactamente por isso é que me mandaram aquele santo preto, como quem diz: “Homem, pira-te para sul do Equador se não queres sofrer mais com o frio nem congelares”. Vou seguir o conselho.
Deste modo vos anuncio que me vou pirar para S. Tomé e Príncipe e aproveito a companhia de um sobrinho meu, que me convidou e que sabe umas quantas coisas sobre as terras africanas. Sobre as terras e os mares. Vou para o calor, para o quentinho ameno de África até achar que não aguento mais o calor – o que deve coincidir com a melhoria do tempo cá pelo burgo do Sócrates e dos outros penduras que o rodeiam, o assistem, com ele vivem à babuja daquilo com que recheiam as suas fortunas suspeitas, muito suspeitas…
Deixando a política, agradeço devotamente aos santinhos da caixa que herdei da minha mãe. Ainda mais porque até aqui, em Lisboa, prevêem temperaturas de zero graus e negativas, como no resto do país. Brrr. E eu vou para o bem-bom.
Vou pirar-me, depois digo alguma coisa.
Nota: Quem souber o nome do santinho preto faça favor de me esclarecer para lhe agradecer convenientemente. Por enquanto, para mim, fica Santo África, que é o berço da humanidade, humanos e desumanos.
Viver neste país já não interessa a ninguém. Agora, como se não bastasse Sócrates, Cavaco e outros nos quererem gelar a cidadania encefálica, também os santinhos nos mandaram um frio polar digno de ursos, que é aquilo que julgam que somos.
Já peguei em várias fotografias dos santinhos que a minha falecida mãe me deixou quando se foi. Estavam numa caixa que raramente vasculho, a não ser nos momentos de maior aflição. Esta do imenso frio que aqui faz em Lisboa é uma emergência, por tal lá fui à caixa rapar as “estampas” de todas as dezenas de santos que ali figuram. Boa vontade tive, mas qual é o santo que manda no tempo, concretamente no frio? Sei lá!
Sei que Santa Bárbara está relacionada com as trovoadas… mas pouco mais. Para mim, o Santo António, o S. Pedro e o S. João é que sempre foram santos porreiros e a que dei maior relevo. Pois, claro, por serem os santos das farras, das galderisses, dos namoros e namoradas, do catrapisca o olho em troca de um belo sorriso maroto de uma garina gira que a sorrir lá vinha bailar comigo ao som das violas e dos banjos, dos tambores e cornetas, assim com dos acordeões e concertinas. Isso é que são santos a valer. Bailar até às tantas gastando a juventude do melhor modo e com olhos brilhantes, felizes.
Ao olhar para os santinhos da caixa bem pedi ao santíssimo que me indicasse qual era o santo do frio. Ele que me desse um sinal com urgência. Com a urgência de um individuo quase a congelar. Mas qual quê, não me ligou patavina. Qual sinal qual carapuça.
Tomei a iniciativa de pedir a uns quantos santos daquela caixa que me auxiliassem, por misericórdia! Nada. Lembrei-me então de fazer como nas cartas de jogar: atirar o molho ao ar e ir selecionando as que ficam viradas com a face para cima.
Pedi desculpa aos santinhos, a todos, por os ir atirar ao ar mas as minhas necessidades de ser atendido justificavam, disse-lhes. Lá foram e lá caíram sobre a cama – fechada, não fosse algum santo pirar-se para dentro dos cobertores – e lá eliminei uns quantos. Lembro-me que entre eles estava um chamado Judas Tadeu, não conheço. Novamente fiz outro lançamento e lá caíram mais uns quantos com a cara na cama, sinal que me viravam as costas e que não eram santos do frio. Truca, menos uns. Agora só me restavam para aí uns vinte no molho. Foram ao ar… e o meu espanto foi enorme quando caíram e vi o resultado. Só ficou um santo a olhar-me, todos os outros viraram-me as costas.
Estranho, muito estranho, nunca tinha reparado naquele santo. Um santo preto? Eu nunca tinha visto nem sabia que havia santos pretos! Aliás, até sempre achei que esta coisa da religião promove e cimenta o racismo ao mostrar Cristo loiro de olhos azuis, e outros mais. Para mim os santos que sabia existirem por ordem do Vaticano são todos brancos, nem na catequese me disseram que tinham promovido pretos a santos – que coisa mais estúpida mandar nos santos como se fossem da tropa ou da formação profissional.
“Sim senhor, estão a evoluir, sinal dos tempos.” Pensei sobre o Vaticano e o santo preto. Qual nada, aquele santo já era velho, até a estampa. Pelo menos para aí uns setenta anos ou mais. Tentei saber o nome mas lá não estava inscrito. Simpático, o santo… mas não está representado com auréola como os outros. Estranho. “Racistas”, pensei logo.
Foi então que percebi. Claro! Era o sinal! O que os santinhos me estavam a dizer era para que eu fosse para África ou coisa assim. Tudo a sul do Equador! Então não! Mas que estúpido que eu sou!
Exactamente por isso é que me mandaram aquele santo preto, como quem diz: “Homem, pira-te para sul do Equador se não queres sofrer mais com o frio nem congelares”. Vou seguir o conselho.
Deste modo vos anuncio que me vou pirar para S. Tomé e Príncipe e aproveito a companhia de um sobrinho meu, que me convidou e que sabe umas quantas coisas sobre as terras africanas. Sobre as terras e os mares. Vou para o calor, para o quentinho ameno de África até achar que não aguento mais o calor – o que deve coincidir com a melhoria do tempo cá pelo burgo do Sócrates e dos outros penduras que o rodeiam, o assistem, com ele vivem à babuja daquilo com que recheiam as suas fortunas suspeitas, muito suspeitas…
Deixando a política, agradeço devotamente aos santinhos da caixa que herdei da minha mãe. Ainda mais porque até aqui, em Lisboa, prevêem temperaturas de zero graus e negativas, como no resto do país. Brrr. E eu vou para o bem-bom.
Vou pirar-me, depois digo alguma coisa.
Nota: Quem souber o nome do santinho preto faça favor de me esclarecer para lhe agradecer convenientemente. Por enquanto, para mim, fica Santo África, que é o berço da humanidade, humanos e desumanos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário