quinta-feira, 25 de junho de 2009

ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE – UMA PALAVRA

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Foi duro para portugueses e moçambicanos o percurso que culminou com a independência de Moçambique, muitos tombaram pelo caminho, de ambos os países os considero heróis e aqui, antes de tudo, rendo-lhes homenagem.

Dos meus amigos “terroristas” nada sei há muito mais de uma década mas recordo-os como se fosse hoje. Eu, muito jovem e do contra. Com uma grande “sede” de beber nas fontes africanas, moçambicanas. Atrevido, vestido à civil logo nas duas horas seguintes a ter chegado a Nampula, ao QG, e passear-me nas ruas da pequena cidade cumprimentando quem não conhecia, para conhecer. Parece que não era muito comum um “colonial das tropas ocupantes” ser tão extrovertido. Ainda menos em tempos de “Nó Górdio”. Os olhares inseguros e de desconfiança contemplavam o meu sorriso descarado e as minhas palavras amistosas e ininterruptas. “Mas quem é este”, inquiriam-se.

“Em tempos achei que eras maluco.” Disse o Cato das Couves meses passados, depois de o conquistar e à sua família. “Eras muito descarado e agora vais embora”, disseram numa noite de farra os meus amigos conquistados e que por uns meros meses se empenharam em conhecer-me, compreender-me, aceitar-me e até proteger-me.

E o Dédé, o Caniço, o Bula Mula, o Amed, o Laco Sempi, o Noca, a dona Tela, a Faca, o Natário… Tantos, tantos outros. Moçambicanos e meus irmãos. Preocupados com os meus desgarros. “Escreve lá isso e ainda vais preso, olha a Pide.” Qual quê!

Quase todos acabaram por se ficar na luta por aquilo em que acreditavam. Deu tempo para saber que o Cato das Couves morreu em combate a leste de Moeda, era “turra”, era meu irmão. Muitos dos outros ficaram-se na guerra posterior, fratricida. Meus irmãos. Foi o preço pago pela luta pelas liberdades em que acreditaram, que queriam conseguir, que conseguiram e de que ainda hoje decerto a usufruem até nos ossos e nas carnes comidas pelas terras moçambicanas, demonstrando-nos que em cada um dos torrões daquela terra está lá um herói, alguns são portugueses.

Dos que restaram na ceifa das vidas nada sei, a não ser que estão vivos e assim irão ficar. Vivos no meu coração e no meu pensamento. Ainda agora estão mesmo aqui. Olhai para eles. Não os vêem? Eu vejo-os, a sorrirem, vitoriosos.

Parabéns moçambicanos, bons dias de independência!
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