terça-feira, 23 de junho de 2009

A EMBAIXADORA DA TANGA E O BRANQUEMENTO DA IMAGEM NO EXTERIOR

.

PIVETE DO BANANA SHOW ENTROU PELO AEROPORTO DA PORTELA

Faz tempo que Ramos Horta sugeriu nomear a mulher do actual primeiro-ministro timorense Embaixadora da Boa-Vontade. Na época certamente que muitos pensaram que aquilo não passava de um “rodriginho”, de uma inutilidade, de um mimo entre amigos e comparsas em muito que de opaco aconteceu e está a acontecer em Timor-Leste, até antes de ter sido conseguida a independência. Agora já devem existir muitos que assim não pensam, não se trata de uma nomeação à toa.

A nomeação serve para juntar à presidência de uma Fundação que se devia considerar meritória mas que não passa de outro complemento político, talvez mais isso do que com índole humanitário e promocional da melhoria da condição feminina e infantil timorenses, de que se arroga.

Diziam-me há tempos que os partidários de Xanana Gusmão estavam a planear uma operação de charme e branqueamento da imagem de Xanana Gusmão em Portugal, junto dos políticos e dos portugueses em geral. Acreditei. Não era difícil acreditar ao verificar que a imagem deste personagem político viera caindo dos píncaros da popularidade e de certa adulação por parte dos portugueses, descaindo redondinho na lama dos que agem indiferentes aos valores da vida, da democracia e do respeito pela constituição que rege o país que tanto sofreu para que aquela lei geral e básica existisse.

A operação de charme e de bem dizer injustificado está agora visível e até é declarada oficialmente pela média. Operação que começou antes no Brasil e viajou para Portugal aos poucos, como lhe foi possível. Sendo agora que se declara abertamente ter entrado pela porta do aeroporto da Portela na bagagem de uma mulher que com as suas palavras, em 2006, também incendiou injustificadamente ânimos em Timor-Leste com suas declarações nas agitações populares em que participou, juntamente com o seu marido, então presidente da República timorense, para além de declarações avulso que nesse período foi fazendo no estrangeiro, principalmente na Austrália, sua casa. Afinal também esta dita embaixadora tem as mãos manchadas de sangue pelas mortes que ocorreram em 2006, 2007, a par do marido, Xanana Gusmão, e outros. As suas imagens são essas em Portugal e é isso que querem branquear. Não a imagem de Timor-Leste porque essa é dos timorenses e está incólume, tão incólume quanto quando combatiam pela libertação do país do jugo indonésio, australiano e norte-americano.

Vimos comummente certa comunicação social dar por adquirido e certo que Alfredo Reinado atentou em 11 de Fevereiro contra a vida do já primeiro-ministro Xanana Gusmão e que até a sua própria família foi atacada na sua residência em Balibar. Certa comunicação social já assim o afirma no Brasil vai tempos e em Portugal isso também está a acontecer. Acontece que não está devidamente esclarecido que essa versão corresponda à realidade, os indícios em 11 de Fevereiro e posteriormente nunca foram nesse sentido mas sim no sentido de uma grandiosa encenação. Foi nisso que os portugueses acreditaram por via de tantas contradições, por via do espectáculo apressado e forçado que esta própria mulher-embaixadora fez questão de dar ao agradecer à GNR, em Díli, por lhe ter salvo a vida, quando sabemos que a GNR que se deslocou a Balibar fê-lo a ouvir os passarinhos cantarem e a trouxe normalmente porque nem vislumbre existia dos pseudo-atacantes do grupo Salsinha-Reinado. Ir a Balibar foi “um passeio”, dito por quem o fez.

O que vimos em Portugal foi a dita embaixadora reavivar a “salvação” ao voltar a ir agradecer aos mesmos homens terem-lhe salvo a vida e à sua família num espectáculo de trapaça que o Comando da GNR teve de engolir sabemos lá porquê… Ou sabemos porquê mas até temos vergonha de admitir que existem políticos no Poder que estão novamente a fazer dos militares portugueses gato-sapato. A embaixadora até se deu ao desplante de incluir no “salvamento” o seu marido, primeiro-ministro – quando este na realidade nem estava em Balibar mas sim em Díli, nessa hora com uma conferência de imprensa já “papada”, porque de manhã é que se começa o dia. Conferência titubeante, onde surgiram contradições mas… A boa-vontade faz de reles baratas carochas lindas, elegantes e luzidias. A comunicação social também serve para isso.

Pelo espectáculo proporcionado por Ana Gomes e pelas mulheres do PS, presume-se, ao convidarem esta embaixadora do Banana Show para Portugal, podemos aquilatar quanto estão empenhados os verdadeiros algozes da democracia e dos atropelos da Constituição timorense, em fazerem perdurar no Poder, através de processos ínvios, o domínio de uns quantos sobre um milhão, fazendo perdurar uma democracia de fachada.

A embaixadora do Banana Show, referiu que agora os timorenses andam pelas ruas à noite, cantam e dançam… Saberá ela que quem canta seus males espanta? E antes, não cantavam? Deixaram de cantar quando? Em 2006, 2007? Pois, naturalmente, o marido e ela própria cortou-lhes o pio com tanta agitação que provocaram, juntamente com os de sua clique. Não se julgue que Ramos Horta está inocente em tudo isto. Muitos também assim não consideram.

O medo impera em Timor, excepto para os que vão beneficiando de migalhas amepistas. Os funcionários públicos têm medo de falar sobre a realidade contra “quem lhes paga”, todos os que dependem de “subsídios” têm medo. O medo é a arma desta democracia timorense. Medo, que a embaixadora deste Banana Show veio pretender lavar em Portugal.

Aquilo que a fiel representante da república do medo, Kirsty Gusmão, não referiu nem refere nas suas “homilias de sabonária” é que esse medo existe de facto – prova disso foram já ameaças de prisão ouvidas por palavras de Xanana aos jornalistas e aos timorenses que se manifestem contra o seu governo. Há de facto “estabilidade” em Timor, à custa do medo da latente repressão. A execução de Alfredo Reinado foi a última mensagem bem clara. Execução, porque assim reza no relatório da autopsia que veio a público, mas que também está sendo branqueada.

O que a embaixadora e presidente fundacional não explica é as razões de existirem pessoas em Timor-Leste que se se relacionarem com simples simpatizantes da Fretilin, ou impartidários opositores, são saneadas e atiradas para o “passa-fome” que existe no país. Nem fala de verbas devidas pelo Estado, por trabalhos prestados ao Estado, que não são pagas por este governo a militantes ou simpatizantes da Fretilin, até a simples cooperantes portugueses, ou de outras nacionalidades esse tipo de pressões é exercido. Claro que disso a embaixadora não fala. A operação de lavagem não resultará se em vez de usar o detergente da ignomínia de um Banana Show mal amanhado passar a esfregar o encardido daquela democracia com a trampa da casa. E no regime de Xanana-Horta-Lasama a trampa já fede e o cheiro viajou com Kirsty Gusmão. Que pivete!

Afinal, concluímos, os que sabem daquilo que realmente se passa em Timor-Leste, que ouvem, vêem e lêem, que a verdade timorense é outra e muito diferente do que está a ser propalado pela embaixadora. Sabe-se que a realidade só não aparece relatada pela pena, voz ou imagem dos midia portugueses e outros porque seriam habilmente irradiados das funções por chefias ou por auto-defeso (onde anda Pedro Rosa Mendes?), havendo ainda a possibilidade de os seus despachos jornalísticos serem atirados para os cestos dos papeis ou similares. Lixo.

Conclui-se que anda por Portugal uma Embaixadora da Tanga que sob o pretexto de defender a condição feminina e outros interesses culturais e históricos timorenses (parcialmente está a fazê-lo) é uma das caras da operação de branqueamento de um governo convivente com a corrupção, com criminosos como Hércules Marçal, com atropelos aos agentes e órgãos de justiça timorenses, com ameaças de prisão a jornalistas timorenses e a eventuais manifestantes que reprovem o mau estado da Nação por via do mau desempenho do governo.

Depreende-se facilmente que aquilo que querem é lavar as suas próprias imagens no exterior e não as do país. Só têm necessidade de proceder a essas operações os que conspurcam a democracia, a justiça, a liberdade e o respeito pela Constituição nos seus próprios países.

Perguntando: a República Portuguesa está a suportar financeiramente esta operação de “branqueamento”? Este moribundo governo de Sócrates também já investe em Banana Shows?

Breve nota do passado:

As declarações de Kirsty Sword-Gusmão

Como são lidas pelos timorenses as declarações de Kirsty Sword-Gusmão ao diário "The Australian", referidas na edição de hoje do PÚBLICO?

Num país europeu seriam vistas como uma ingerência inadmissível na esfera governativa, um factor de perturbação numa situação complexa a pedir ponderação. Este tipo de intervenção é frequente (em Portugal penso ser a segunda vez que algo do género é noticiado)? É visto como normal? Kirsty Sword-Gusmão é vista como representando o pensamento do presidente Xanana Gusmão?

José Vítor Malheiros - Quarta-feira, Maio 31, 2006 “

In Timor, blogue do Público, de Ângela Carrascalão
.

Sem comentários: