quinta-feira, 10 de junho de 2010

COINCIDÊNCIAS ESPANTÁSTICAS À ESPERA QUE A VACA TUSSA

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Vaca a caminho do tussadouro

BURKINA FASO E PORTUGAL DE MÃOS DADAS

Fui alertado pela TSF para o facto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social ter deliberado hoje, quarta-feira, véspera de 10 de Junho - “Dia da Raça” dos Cavacos Silvas, Motas Amarais e outros – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, que o director do Jornal de Notícias, Leite Pereira, “não exorbitou as suas competências, quando decidiu não publicar a crónica de Mário Crespo, destinada à edição de 1 de Fevereiro passado”, e estou a citar o constante no mesmo Jornal de Notícias de ontem, quarta-feira, 9, às 19:37 horas.

Segundo lá consta “A crónica aludia a uma conversa do primeiro-ministro, ocorrida num restaurante. Nessa medida, determinou o arquivamento da queixa apresentada pelo jornalista da SIC.

As reservas colocadas à publicação da crónica em questão não configuram uma utilização abusiva do poder genérico de orientação do jornal”, sustenta a ERC, considerando que assumem “contornos de razoabilidade e adequação”. Isto é, José Leite Pereira tinha o direito de questionar o jornalista sobre aspectos da crónica que lhe suscitavam “reservas do ponto de vista deontológico e de prática habitual do seu jornal”. A saber: a reprodução de uma conversa privada e a ausência de audição das partes atendíveis.”

E ainda, para terminar, no JN: “A ERC, que sublinha o facto de ter sido Mário Crespo quem tomou a iniciativa de cessar a sua colaboração com o JN, atribui “especial relevo” à posição do Conselho de Redacção do jornal, que por unanimidade exprimiu concordância com a posição da Direcção.”

Pois bem, a ERC, uma iluminada Entidade Reguladora para a Comunicação Social – provavelmente futura Comissão de Censura e de perseguição aos malandros dos jornalistas politicamente incorrectos, digo: partidariamente incorrectos – chegou a esta conclusão quase à mesma hora de uma conclusão idêntica de uma congénere no Burkina Faso. Espantástica coincidência!

Antes de abordar o ocorrido no Burkina Faso compreendo que deve ser aqui referido que pelo mesmo caso o Sindicato dos Jornalistas tornou público que considerava acto censório a decisão do director do JN ao se recusar a publicar a habitual crónica de Mário Crespo onde referia conversa passada num restaurante chiquérrimo de Lisboa entre o primeiro José Sócrates e outros sentados à sua mesa que dava a entender que Crespo era incomodo e que por tal seria bem que fosse “abatido” (no desempenho das suas funções profissionais”). Pelo menos foi assim que entendemos e, cá prá gente, nem será de admirar, nem seria o primeiro jornalista ou pessoa que mete a boca no trombone a ser “eliminado”, metido na prateleira.

Temos assim que os profissionais do jornalismo concluíram que Leite Pereira foi censor. Porque esses mesmos profissionais não percebem nada disso sobre censura lá veio a ERC corrigir e dizer que não senhor. “Censura? Nem pó!” Gostava de saber quanto ganham os da ERC para chegarem a conclusões deste tipo, mas isso é uma bisbilhotice e um aparte de um blogueiro por enquanto livre da Comissão de Censura, digo: ERC. Esta sigla parece um arroto sócio-profissional de mau agoiro. Muitos RIP para a ERC. Assunto quase arrumado.

Resta fazer notar que cá para a rapaziada, talvez mais ainda para os que já guardam uma certa idade e conhecimentos dos processos salazar-marcelistas, o que Leite Pereira fez foi claramente um acto censório e se acaso dorme de consciência tranquila, não se considerando um censor, naquele caso, está muito bem no lugar e até pode continuar a exercê-lo enquanto a vaca não tossir. Já o mesmo não direi depois. Olhem que ela um dia vai tossir. Acontece sempre que Leites e Pereiras e mais do antigamente desenterram o lápis azul da censura. Sim. Sim.

TU TAMBÉM, BURKINA FASO?

Por uma questão de sanidade mental gosto muito de terminar o dia, a noite, indo ler o Alto Hama, do jornalista Orlando Castro. Espanto dos espantos quando deparo com caso similar ao anteriormente referido e ocorrido nesta Porcalhota – parafraseando o Gaspar - mas o caso do Alto Hama é no Burkina Faso, com um jornalista que não era Crespo mas Zonzo, digo, Zongo. Jornalistas, Crespos e Zonzos, que querem meter nas prateleiras ou reeducá-los à moda do Burkina e, pelos vistos, de cá.

É na realidade espantástico encontrar tal coincidência. Por essa razão trago aqui a talhe de foice o que Orlando Castro publicou no Alto Hama, caso passado no Burkina, onde sabemos que os governantes são uns malandros da pior espécie, os dirigentes políticos idem, os jornais completamente controlados pelo poder económico e político-partidário dos que estão na mó de cima. Uma lástima de país. Um vómito. Salva-se o povinho, que tarda em se resolver a deixar de estar à espera que a vaca tussa…

Espantástica coincidência, só visto. Vede.

O QUE DIZ A ERC DO BURKINA FASO

Por ORLANDO CASTRO – Alto Hama

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social do Burkina Faso decidiu arquivar o processo referente à queixa do jornalista Blaise Zongo por não publicação de uma crónica sua no L’ Observateur Paalga.

“O Conselho Regulador deliberou, por unanimidade, determinar o arquivamento do processo referente à queixa do jornalista Blaise Zongo, relativa à recusa de publicação de uma crónica de sua autoria no L’ Observateur Paalga”, refere um comunicado divulgado hoje em Ouagadougou.

Blaise Zongo alegava que a não publicação da crónica é um acto de censura, mas a entidade do Burkina Faso assinala que “as dúvidas do director do L’ Observateur Paalga” são inquestionáveis.

Blaise Zongo já disse ter um entendimento diferente, frisando que não tem dúvidas de que “houve um acto de censura” e que “é alarmante que tenha ocorrido em 2010”.

“É manifesto que não concordo com a decisão de arquivamento”, disse Blaise Zongo explicando que apresentou igual queixa ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas do Burkina Faso e que este classificou o caso como um acto censório.

No seu parecer, recorde-se, o Conselho Deontológico considerou que, do ponto de vista “da liberdade de expressão constitucionalmente consagrada", o director do L’ Observateur Paalga optou "por uma atitude censória".

*Orlando Castro é jornalista angolano-português. Carteira Profissional nº 925. Mais pormenores em www.orlandopressroom.com

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altohama@clix.pt - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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