sábado, 4 de junho de 2011

BORRIFEM-SE PARA O QUE CAVACO DIZ COM “ARES” DE “ANTIGAMENTE”




TENHA DÓ, SENHOR CAVACO!

Apesar de querer não fazer pronunciamentos políticos no dia de hoje, por ser período de reflexão para os que ainda não refletiram, violo este propósito porque as declarações de Cavaco Silva no Facebook não me deixam calar o susto que considero que aquele sujeito nos pode causar. Cavaco encarna vezes demais declarações que nos transportam ao “antigamente”. Que ele seja um homem do “antigamente” é uma coisa, mas que usando-se dos seus cargos graças à democracia nos assuste com declarações com “ares” dos “velhos tempos” salazaristas é que é de repudiar.

Segundo a notícia, transcrita já aqui em baixo, Cavaco vai fazer uma comunicação ao país alusiva ao dia de amanhã, dia de eleições. Será “uma comunicação onde vai apelar ao voto nas eleições legislativas de amanhã, domingo, referindo que quem se abstiver perde a legitimidade para criticar o próximo Governo.”

A seguir, noutro parágrafo afirma que “é um dever de todos os cidadãos manifestarem a sua vontade” atendendo à situação do país. Claramente está escrito que “O Presidente da República considera que “quem não votar perde a legitimidade para depois criticar as políticas do Governo" que será eleito nas legislativas de domingo.” Ora se primeiro é um dever dos cidadãos manifestarem a sua vontade a abstenção é legíma e não nos coarta direitos constitucionais. Ou não é assim?

Não quis acreditar que Cavaco tivesse afirmado isto. Mas afirmou. E pelos vistos é aquilo que vai afirmar na sua comunicação ao país a ser veiculado nas televisões e nas rádios.

Os tiques salazaristas deste sujeito impressionam-me. E, pelo menos, assustam os que já penaram desde que nasceram, por décadas, os “velhos tempos” salazaristas.

Mas quem é Cavaco Silva para afirmar que quem não votar “perde a legitimidade para criticar o próximo Governo”? Desde quando? Qual é a lei que retira essa legitimidade aos cidadãos portugueses? Das três uma: ou Cavaco não sabe falar, ou não sabe pensar, ou pensa e diz o que quer e arraça-se de salazarista chapado neste tipo de declarações!

Não votar é uma opção e um direito constitucional igual à opção de votar. Temos todo o direito de nos abstermos e temos todo o direito de criticar os governos e políticos que sob suas ações mereçam ser criticados. Não existem portugueses assim e outros assado como nos tempos do Salazar, ou pelo menos não deviam existir. Tudo indica que na cabeça de Cavaco eles existem mesmo.

Imagine-se que entre vários pratos de sopa um individuo se abstém de comer sopa. Não toca em nenhuma das cinco ou seis sopas diferentes que lhe oferecem para escolher porque as conhece e sabe que não quer, que não gosta de nenhuma. E então esse individuo não tem o direito de se pronunciar e de criticar as sopas que não quis, porque não gostava ou porque em sua opinião não prestavam?

Uma era sopa de mijo, outra de diarreia, outra de peles de rato, outra couro de chulos, outra de parasitas, outra de corruptos, outra de grandes fugas de impostos (SISA), etc. O individuo sabe perfeitamente os sabores das sopas, não gosta, não quer aquelas e não tem mais para escolher… Abstém-se e é livre de as criticar. De dizer que a de mijo é um nojo, que a de diarreia é asquerosa, que a de fugas de impostos é vergonhosa… E assim sucessivamente. Mas para Cavaco não. Há que votar. Provavelmente se pudesse ia-nos buscar a casa e votaríamos à força. Ou se calhar até o melhor era serem só uns quantos dótores a votarem, que ele escolheria. Ou colégio eleitoral… Qualquer coisa assim. O senhor Cavaco é um susto e é também aqui nestas aparentes pequenas coisas que o vai demonstrando.

Este sujeito, eleito PR à rasquinha, para quem sabe um pouco daquilo que foi o “antigamente” e que experimentou penar, assusta. Os seus tiques de ditador, ou pelo menos antidemocráticos, parecem multiplicar-se com a idade… Ou então sente-se mais autorizado e revelar-se. O que seja é preocupante. Ainda mais se tivermos um governo na mesma linha. Resta-nos ficar atentos e não nos calarmos, criticarmos quando considerarmos que o devemos fazer e assim nos garante a Constituição. Não nos calarmos. Borrifarmo-nos para o que Cavaco quer e diz. No mínimo poderá ser impensado mas é sempre desonesto. Como em política não existem acasos…

Parece evidente que os atuais políticos estão com um medo enorme de que os portugueses abram de vez os olhos e usem a arma da abstenção para os destituir. E Cavaco é um dos que está com imenso medo disso. A abstenção nas eleições presidenciais foi retumbante, cerca de 60 por cento.

Ora se nos põem trampa à frente, que até já conhecemos há imensos anos e nos tem feito infelizes e miseráveis, devemos continuara a escolher essa trampa? Podemos fazê-lo ou não. Mas essa é opção nossa, sem mais consequências. Até porque quem vai governar Portugal nos próximos anos vai fazê-lo às ordens do exterior, mais do mesmo mas a falar outras línguas, o que parece agradar a Cavaco. Tenha dó, senhor Cavaco!
 
Original em PÁGINA GLOBAL

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