sexta-feira, 10 de junho de 2011

DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES, OU DIA DA RAÇA?




Recordo os tempos idos dos anos sessenta. Em que qualquer de nós, português e rapaz, já sabia aos 12, 14 ou 15 anos, com a devida antecedência, que ia ter de “gramar” a tropa e a guerra colonial, que nos arrasaria a juventude e nos atrasaria a vida, na melhor das hipóteses. Na pior não regressaríamos vivos ou então deixaríamos lá, pelo dito ultramar, uma ou duas pernas, ou braços, ou pés, ou mãos… a alma… Qualquer parte de nós próprios em nome da glória de uma pátria fascista e colonialista que servia quase em exclusivo uns oficiais das forças armadas cheios de reumático, de teias de aranha e negociatas com a dúzia de famílias a quem pertencia Portugal.

Era no 10 de Junho desse tempo que no Terreiro do Paço, em Lisboa, nas cerimónias cinzentas víamos pais e mães, irmãos e mulheres, até filhos muito pequeninos – dos combatentes mortos – serem condecorados com a cruz de guerra desta e daquela classe por atos heróicos. Espetáculo repleto da negritude da hipocrisia do regime e dos da pátria do cifrão que nas ditas colónias em África exploravam os africanos e nos mandavam reprimi-los em nome de um estado Salazar-fascista e de uma igreja católica que não lhe ficava absolutamente nada atrás com o seu chefe Cerejeira, cardeal capanga de Salazar desde a juventude. Duas nefastas figuras de então a que davam o epíteto de “testículos” por andarem sempre juntos, ou ainda recriar o dito: “Em que pensas cardeal? Em ti, meu grande animal!” Supostamente era Salazar a perguntar e Cerejeira a responder. Na realidade eles eram dois terríveis e temíveis animais que em sintonia arrastaram o país para o atraso que ainda hoje é patente. Esse era o 10 de Junho, Dia de Portugal e Dia da Raça, fascizante e colonialista.

Décadas volvidas, a mostra é de que estamos em caminho regressivo às mãos de políticos que airosamente se escondem na democracia conquistada em Abril de 1974. Este dia para Cavaco Silva, presidente eleito por cerca de um quarto dos eleitores portugueses, ainda é o Dia da Raça. Ele mesmo o disse com todo o desafogo há um ano ou dois, por esta altura de comemorações. Falando com sinceridade e assumindo-se homem do antigamente. E ali continua o cinzento sujeito em Belém, hirto, seráfico, asalazarado, falando de sacrifícios repartidos mas não se privando dos quase exclusivos benefícios da democracia nem da oferta de lautos banquetes pagos pelo povo em festarolas oficiais aos que todos os dias vivem em êxtase e sumptuosamente à conta dos que são na realidade vitimas da crise gerada pelos da pátria do cifrão e seus apaniguados políticos. O tempo voltou para trás. Regressámos a um Portugal cinzento por obras e desgraças arquitetadas por políticos sem decoro ou com aparente decoro mas que não se coíbem de “sacar o deles” antes que “se faça tarde”. O cinismo impera na política portuguesa, a corrupção e os conluios é inenarrável. Isso mesmo se percebe em discursos medíocres que vimos e ouvimos todos os dias com bastante enfado.

Percebe-se que os portugueses estão fartos destes abutres políticos de colarinhos brancos, a exemplo de outros povos da Europa e do mundo. Decerto que eles também já percebem isso. É tão evidente. Mas o que não conseguem é usar de honestidade suficiente para largarem os “tachos”, abandonarem de vez as suas enormes ambições de poder quase eterno, abandonarem a proteção aos amigos a quem distribuíram igualmente mais “tachos” e benefícios que representam imensos milhões e que saem dos sacrifícios dos que sobrevivem com enormes vulnerabilidades. Eles não sabem como poderão sair sem que posteriormente, alguma vez, algum dia, se conclua documentalmente ou por outra via sobre as suas negociatas e responsabilidades naquilo que agora dizem ser o fracasso e responsabilidades de todos os portugueses. É que para se usarem e abusarem dos bens públicos servem-se esbanjadora e egoistamente. Depois as responsabilidades são de todos e os sacrifícios cabem somente aos plebeus e plebeias. Independentemente da hipocrisia contida nos seus discursos em que se declaram também uns sacrificados. Nada é mais falso. Foi Dia de Portugal, um dia quase à moda do antigamente. De Abril quase nada sobra. Estamos a ser dirigidos por figuras cinzentas e ainda mais perigosas que os de antigamente. Desmesuradamente oportunistas e gananciosos. Parece ter sido mais um Dia da Raça, com cheiros a incenso, a naftalina, a discursos medíocres e hipócritas. Dali só destoou António Barreto. Alguma coisa. Mas o que disse será inconsequente.

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